São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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ONU debate sistema global de comércio virtual

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Até hoje a Internet tem sido vista principalmente como uma espécie de parque de diversões. No máximo, uma irmã menor das redes corporativas ou a versão infantil dos circuitos em tempo real dos mercados financeiros.
As estrelas ainda são as empresas que produzem softwares para o consumo de milhões, como Bill Gates em sua guerra pela definição de um novo padrão de navegação na rede. Em resumo, embora a Internet seja um grande negócio, os holofotes ainda estão na pornografia e no lazer.
Aos poucos isso começa a mudar. A evolução dos sistemas de pagamento eletrônico, a utilização da rede como instrumento avançado de marketing e, mais importante, a conversão desse espaço lúdico em nova forma de mercado são exemplos de uma Internet mais "séria".
A revista "The Economist" publicou na semana passada uma longa resenha sobre "Comércio Eletrônico", cujo editorial de abertura proclama nada menos que a "busca do mercado perfeito". Claro que a realidade está muito longe disso, mas as condições de operação de negócios estão evoluindo mais rápido do que se imagina.
O que talvez pouca gente imagine é que organizações multilaterais, como o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas (ONU), dedicam-se hoje ao desenvolvimento de sistemas econômicos virutais e globais para operações de verdade, tanto em comércio (caso dos "trade points" da Unctad) quanto em investimento ("IPAnet" do Banco Mundial).
Encontro
Acontecerá entre os dias 21 e 23 de maio, em Bancoc, Tailândia, uma grande conferência promovida pelas Nações Unidas sobre Tecnologia da Informação e Negócios Eletrônicos.
Há vários sistemas já em operação, tais como os Trade Points, o ETO ("Electronic Trading Opportunities"), o Asia Pacific Information Exchange (Apix), o Super Corredor da Malásia e uma série de iniciativas locais. Os países da Ásia estão investindo pesado na criação de uma rede econômica para valer e durante a conferência serão exibidos e discutidos vários casos. O projeto da ONU começou em 1992 e já passou da fase em que a prioridade é ganhar massa crítica. Atualmente existem 131 Trade Points em 101 países, dos quais 20 são economias em desenvolvimento.
Desde junho de 1993 o sistema ETO já enviou 1 bilhão de mensagens com oportunidades de negócios oferecidas por 7 milhões de empresas em 148 países. O sistema está sendo construído com normas próprias de segurança, autenticação e validação de cada transação. Até o Vietnã já entrou no sistema, que hoje propicia até 5 milhões de "hits" por dia (número de consultas), com uma média de solicitações diárias de 1,29 milhão.
Mais de 25 mil organizações comerciais recebem mensagens diárias por correio eletrônico e outros meios, além de 359 ministérios, 726 câmaras de comércio, 250 organizações de promoção do comércio, 570 ONGs e 114 comitês de investimentos.
O poder de difusão, entretanto, é ainda maior. Na Coréia do Sul, por exemplo, o Trade Point redistribui as ETOs (anúncios de oportunidades de negócios) para 67 mil usuários empresariais.
Outro detalhe curioso do sistema é sua arquitetura, em muitos países, estar baseada nas universidades. Sistemas de vídeo e rádio por meio da Internet também estão sendo integrados. É um detalhe de grande alcance, pois a eficácia do sistema depende também da capacidade de treinamento oferecida aos participantes. O ensino à distância é uma parte integral da rede patrocinada pela ONU (que pode ser visitada a partir do endereço http://www.unicc.org/untpdc).
Em termos mais gerais, há quem estime a evolução completa do mercado virtual global leve ainda mais 7 ou 8 anos, com transações digitais no ano 2001 da ordem de US$ 10 bilhões.
Resta saber se o grosso desse comércio será resultado da venda de livros, games, pornografia e jogos de azar ou se, como quer a ONU, um sistema eletrônico global ajudará a reduzir as imperfeições e desigualdades do mercado real.

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