São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Alca, um balanço

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A reunião ministerial da Alca termina sem que se tenha avançado muito na criação da Área de Livre Comércio das Américas. Sob o ponto de vista das metas estabelecidas, o resultado é frustrante: apenas tornou explícita a divergência séria de agendas entre países como Estados Unidos e Canadá e os do Mercosul.
No entanto, não cabe dizer que toda a reunião foi um fracasso. No caso brasileiro, por exemplo, está servindo para induzir a um reexame necessário da política comercial e ao questionamento de como elevar a competitividade das exportações.
Um desdobramento positivo das preocupações causadas pela reunião de Belo Horizonte e pelo projeto da Alca é ter tornado claro que parte das nossas dificuldades deve-se ao atraso cambial.
Como o senador José Serra escreveu em artigo na Folha do dia 15, "lembre o leitor, a abertura (comercial) foi lançada no início dos anos 90, sob uma taxa de câmbio efetiva (e prevista) muito menos apreciada do que a prevalecente desde o segundo semestre de 1994". Seguramente, o senador sabe ao que se referia e conhece as restrições que alguns setores do governo fazem a esta constatação.
Dois outros desdobramentos positivos da reunião foram a maior mobilização do setor empresarial e a intensa atividade diplomática do Itamaraty para apurar restrições que afetam negativamente as exportações do país.
A preocupação do empresariado com os desafios colocados pela Alca fizeram com que entidades como a CNI e a CNA se dedicassem com muito mais afinco no levantamento das suas pautas de interesse. Essa mobilização deixa claro a necessidade de buscar superar os desafios em termos de competitividade dos produtos, do "custo Brasil" e da adequação da política comercial.
O Itamaraty, por sua vez, pode consolidar a opção pelo fortalecimento do Mercosul, tanto por sua dimensão econômica quanto política, e mostrar-se ágil na definição de uma temática econômica de interesse da nação. Quanto ao impasse com os Estados Unidos, não seria mesmo possível comprometer-se com uma nova rodada de liberalização comercial, no curto prazo, diante das dificuldades das contas externas.
O saldo qualitativo da reunião é a percepção mais clara de que o país precisa definir melhor seu projeto de crescimento. Superada a etapa de vencer a hiperinflação, um problema que era absolutamente prioritário, os desafios do presente são outros: como crescer, com que recursos e buscando qual perfil social.
O caminho apontado é que as reformas da Constituição, as privatizações e as mudanças na Previdência que possam aumentar a poupança irão resolver o problema. Mas só isso, como está se vendo, não é suficiente.

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