São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Ouro provoca ascensão e decadência

MÁRIO MAGALHÃES
DO ENVIADO A RORAIMA

O atacante Carlos Alberto saía de campo no fim da partida e um repórter perguntou-lhe: "O que você achou do jogo?"
"Eu não achei nada, mas o Aldir achou um cordão de ouro", respondeu Carlos Alberto, referindo-se a outro jogador do seu time.
O caso ocorreu mesmo, e não espanta. O ouro -seus objetos, dramas e comédias- colou-se ao imaginário de Roraima.
No fim dos anos 80, o aeroporto de Boa Vista era o mais movimentado do Brasil, com cerca de 400 pousos diários. Eram aviões levando garimpeiros de várias partes de Roraima para a capital.
Por todo o Estado, foram construídas centenas de pistas clandestinas. O grosso do garimpo era ilegal, sem recolhimento de impostos e dribles nas instituições encarregadas de comprar o produto.
Havia violência contra as comunidades indígenas que tinham terras invadidas pelos exploradores -os ianomamis foram vítimas.
Depois, com as pistas de pouso dinamitadas pela Polícia Federal e a Polícia Militar, apesar de denúncias de propinas pagas por garimpeiros a policiais, a produção caiu: 3.469 kg em 1991 e 1.038 em 1992.
Como antes, porém, os números oficiais estão aquém da realidade. Não se sabe quantos -talvez centenas- garimpeiros morreram em acidentes ou assassinados por outros garimpeiros.
Ainda há milhares deles em Roraima, mas muito menos do que há poucos anos.
Parlamentares organizam lobby em Brasília para evitar que a demarcação de terras indígenas ao norte do Estado inclua vilas de garimpeiros.
Durante as vacas gordas, aventureiros frequentaram jogos e ajudaram clubes, mas sem empolgação.
Em Boa Vista, era comum os novos-ricos tirarem um carro na loja e batê-lo minutos depois.
Alguns, mesmo culpados pelo acidente, matavam a tiros o motorista do outro carro.
Vários jogavam as chaves -moldadas em ouro- ao chão, deixavam o carro na rua e buscavam na hora outro automóvel.
A multidão de prostitutas que apareceu em Boa Vista faturou. Muitas dormiram com garimpeiros de dentes de ouro e acordaram donas dos carros que eles haviam comprado na véspera.
(MM)

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