São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Parlamento do Japão aprova lei que reconhece a minoria ainu

Libération
de Paris

FRÉDÉRIQUE AMAGUA; KEN HONGO
DE PARIS

FRÉDÉRIQUE AMAGUA
KEN HONGO
em Tóquio
O Japão não é mais uma nação "monoétnica", como dizia há poucos anos o premiê Yasuhiro Nakasone. Há um mês, pela primeira vez, a Justiça japonesa reconheceu que os ainus são um povo indígena autóctone.
Na semana retrasada, o Parlamento aprovou a primeira lei reconhecendo a existência de uma minoria no arquipélago japonês.
A lei, criada para preservar a cultura ainu, substitui outra, de quase um século, responsável pela discriminação contra os ainus.
Até recentemente o Japão se considerava o único país monoétnico do mundo e se recusava a reconhecer a minoria dos ainus, dos japoneses nascidos de pais coreanos ou chineses e da minoria burakumin.
Os burakumin são japoneses descendentes dos etas, que, entre os século 17 e 19, sofriam os efeitos do rígido sistema de castas formalizado pelos shoguns. Eles só podiam trabalhar com couro ou em profissões ligadas à morte (carrascos ou coveiros).
Depois da Segunda Guerra Mundial, com a Constituição imposta pelos EUA, o Japão abandonou a ideologia de "uma nação, um povo". Só na teoria. As minorias étnicas continuaram sendo marginalizadas, e seus integrantes, vistos como cidadãos de segunda classe.
Com uma política de absorção, os japoneses vêm tentando eliminar os ainus, que são os mais antigos habitantes do país. Eles têm algumas semelhanças com os caucasianos -mais pêlos no corpo do que os japoneses e pele mais clara.
A partir do século 12, concentraram-se nas ilhas do norte -Sakhalinas, Kurilas e Hokkaido.
No último século, os japoneses colonizaram Hokkaido, para deter o avanço russo em direção sul. Foi o fim da independência ainu e o início de uma política de assimilação brutal, que os obrigou a adotar a língua e nomes japoneses.
Um tribunal acaba de dar o veredicto num processo de dois habitantes da ilha contra o Estado, pela desapropriação de terras para a construção de uma barragem. A Justiça considerou ilegal a desapropriação.
Foi a primeira vez que os ainus foram reconhecidos legalmente como "população aborígene minoritária", que vivia em Hokkaido muito antes de o poder japonês chegar à região.
A lei aprovada no Parlamento é menos ousada. Ela não reconhece os ainus como população indígena, sob o pretexto de que a ONU ainda não o fez. A omissão se deve ao temor do governo de que os ainus reclamem direitos sobre a terra e os recursos naturais da região.

Tradução de Clara Allain

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