São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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Chega de medo

CLÓVIS ROSSI

Belo Horizonte - O líder do PSDB na Câmara, deputado Aécio Neves (MG), jura que o governo teme, com uma eventual CPI sobre o escândalo de turno, não o que se possa apurar contra ele, mas a paralisia que provocará.
Aceitemos, na boa fé, como verdadeiro tal temor. Digamos que ele até se explica. Mas em hipótese alguma se justifica.
Já chega de postergações. O país precisa em algum momento submeter-se a uma tomografia definitiva de suas entranhas apodrecidas. Precisa deixar entrar luz nos porões de sua política, como já o fez, ainda que de maneira insuficiente, com os porões do regime militar.
Chega de desculpas.
Faz ao menos 30 anos que a sociedade não ouve outra coisa, desde que uma suposta ameaça do "comunismo internacional" interrompeu o processo democrático. Por medo disso ou daquilo, sempre se adia o que se deveria fazer ontem.
O restabelecimento das eleições diretas para a Presidência foi adiado de 85 para 89 com medo de Leonel Brizola e Ulysses Guimarães (Lula ainda não era o fantasma de turno). A investigação sobre o sistema financeiro foi evitada por medo de uma suposta "crise sistêmica", que, conforme a teoria terrorista da época, derrubaria um banco após o outro.
Falta ao Brasil um momento de ruptura, não no mau sentido da palavra. Não uma quebra institucional, uma revolução enlouquecida ou o mergulho no desconhecido.
Uma ruptura com uma cultura política que sobrevive, a rigor, desde que Pero Vaz de Caminha pediu emprego para um parente, na carta em que comunicava ao rei de Portugal a descoberta do Brasil.
Pediu pouco, muito pouco, como o tempo provou.
Se, como diz Aécio, o governo nada tem a esconder ou temer, que mal há em parar o país? Em matéria política, ele já está parado. Ou, pior, anda para trás.

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