São Paulo, domingo, 18 de maio de 1997
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O neopecenato (2)

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A rotina é essa mesma: quando há ocasião, surge o ladrão. Tirante os ladrões de galinha, que estão fora de moda, o que sobra (e como sobra!) é o ladrão de alto coturno, que gravita em torno das chamadas grandes causas do Estado.
Foi assim em Paris, durante o 2º Império, quando a cidade foi posta abaixo e reconstruída -Zola deixou vários romances sobre o período. O que correu de dinheiro não foi mole.
Quando são promovidas grandes obras, independentemente da honestidade dos governos, considerável massa de dinheiro é movimentada. Essa massa de dinheiro substitui as galinhas de outrora: o que há de ladrão em cima delas também não é mole.
O atual governo pode ser acusado de tudo, menos de estar promovendo grandes obras. Na realidade, não há notícia de um único prego sendo pregado, de uma pinguela, de um poleiro sendo feitos por conta do governo federal. Logo, não é por aí que os ladrões vão buscar galinhas.
O governo FHC está sendo pródigo em reformas. Cada item, cada parágrafo, cada alínea de uma dessas reformas é negociada literalmente. Afinal, o neoliberalismo exalta o mercado e "negociar" é próprio do mercado.
Resumo: não há o dinheiro para grandes obras pela simples razão de que não há obra alguma. Contudo há uma dinheirama voando por aí, indo de uma conta para outra, de um bolso para outro.
Quando da votação da emenda da eleição, estava na cara que o fisiologismo corria solto. O presidente fez cívicas vigílias, poucas vezes na história do Brasil houve um balcão tão nítido. Com as recentes revelações daqueles venturosos dias, ficamos sabendo que o exemplo de PC Farias foi fielmente seguido. Sérgio Motta andava de um lado para o outro, suava como se estivesse numa sauna. Um papinho com ele ou com o presidente convencia qualquer adversário da reeleição.

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