São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Idéias às avessas

JANIO DE FREITAS

Quando nem um mínimo pudor sobrevive para impedir que um presidente da República combine com aliados o esvaziamento do Congresso por duas semanas, e depois discurse acusando a oposição de pretender paralisar as atividades parlamentares, não restam possibilidades de conceder qualquer dose de crédito moral aos beneficiários da corrupção que compra parlamentares.
Não surpreende, portanto, que o esvaziamento do Congresso, adotado como outra tentativa indecente de enfraquecer as exigências por uma CPI da Reeleição, fracasse já no primeiro dia, sob o impacto de dois novos fatos contra o governo.
A relação entre uma verba federal de R$ 30 milhões para obras rodoviárias de interesse das empreiteiras de Orleir Cameli e Amazonino Mendes, os dois governadores acusados de pagar votos para o projeto de reeleição, promete manter aquecidos os esforços para criação da CPI. Ex-secretário de Cameli, Guilherme Duque Estrada juntou às suas revelações, feitas ao repórter Claudio Julio Tognolli, o compromisso de levar a denúncia ao Senado na semana que vem. Se o fizer, a primeira semana da malandragem governista estará perdida.
Não é necessária tal denúncia, porém, para que apareçam frutos da moção, aprovada por unanimidade, em que os presidentes dos diretórios regionais do PMDB tomam posição a favor da CPI. A compra apressada de parte do PMDB por Fernando Henrique, com os ministérios da Justiça e dos Transportes como moeda, resolveu a votação do projeto de reeleição no Senado, mas o negócio não produziu efeitos nos favoráveis à CPI.
Além da moção, outra força vai agir sobre a parte da bancada peemedebista que cumpre as ordens provenientes do Planalto, transmitidas pelo deputado-estafeta Geddel Vieira Lima. Na ida aos seus Estados, esses peemedebistas vão sentir a mesma pressão de eleitores que levou muitos outros deputados, no correr da semana, a assinar o requerimento de votação. Nem houve, então, as pressões diretas que os parlamentares estavam pressentindo para este fim-de-semana. E que não mais se restringirão a três ou quatro dias.
As duas semanas de malandragem vão expor os paus-mandados, e não só os do PMDB, a pressões tão duradouras quanto sua clareza já mostrada nas pesquisas de opinião. Para bolar uma tática assim suicida, Fernando Henrique, Inocêncio Oliveira, Antonio Carlos Magalhães, Luís Eduardo, Benito Gama, José Serra -expressões mais altas do horror à CPI- devem estar todos muito perturbados. Não lhes faltam motivos, mesmo.
Números
"Senadores aprovam reeleição".
Por quanto?

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