São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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FHC prega 'basta' a 'clima de baderna' e critica o MST

Presidente pede 'ordem' e faz balanço do governo

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso pregou ontem um "basta" no "clima de baderna" que estaria sendo promovido por "setores inconformados com a sua própria falta de alternativas às nossas políticas". Segundo FHC, esse clima é "uma onda premeditada de violência e anarquia".
As declarações do presidente foram feitas em discurso de 30 minutos na solenidade de posse dos novos ministros da Justiça (Iris Rezende) e Transportes (Eliseu Padilha) no Planalto.
Referindo-se claramente ao líder dos sem-terra, João Pedro Stédile, mas sem citá-lo, e à invasão na semana passada do prédio do Ministério do Planejamento, o presidente disse que 'às invasões repetidas de prédios públicos e de propriedades particulares" são "incitamentos à desordem".
Stédile recomendou anteontem, no Rio, que os sem-teto '•cupem" terrenos baldios, que serviriam à especulação imobiliária, como forma de pressionar o governo.
'A sociedade brasileira exige um basta a este clima de baderna. A sociedade não quer desordem", afirmou FHC. "Pedras, paus e coquetéis molotov são argumentos tão pouco válidos quanto as baionetas. Só que menos poderosos", acrescentou.
Contrariando um estilo que ele vinha mantendo, o presidente leu a maior parte do texto do pronunciamento, embora tenha feito algumas considerações de improviso.
FHC chegou a esmurrar o púlpito quando falou dos ataques que, segundo ele, ferem a ordem democrática. "Parece que meu apego ao diálogo e meu amor à liberdade têm sido confundidos, por esses setores, com sinais para que as virtudes republicanas (murro) sejam atacadas."
O presidente disse que falava "de coração aberto" e que está trabalhando para "impedir que a desordem corrompa a liberdade". Pediu ao ministro Iris, que estava empossando, que agisse "dentro da leim mas sem hesitação".
Ele criticou o MST por não querer integrar um comissão proposta pelo governo para tratar da reforma agrária, chamando o movimento de sectário.
"Vêm se amiudando incitamentos à desordem, inclusive por parte de lideranças nacionais de alguns movimentos que suscitaram a simpatia da sociedade, não fosse sua agora óbvia vinculação político-sectária. Isso é grave. E tanto mais grave quando o governo tem estendido as mãos e proposto negociações democráticas."
O presidente aproveitou a posse para, no mesmo discurso, fazer uma espécie de balanço das realizações do seu governo.
Estabilidade
FHC disse que desde que foi nomeado ministro da Fazenda de Itamar Franco tem se empenhado para recuperar a estabilidade econômica e política do país.
"Inflação de 10% ao ano, crescimento pelo quinto ano consecutivo, investimentos nacionais e estrangeiros em expansão, nível de emprego estável, setor agrícola saneado e em franca recuperação e aumento dos salários reais", resumiu.
Segundo o presidente, a "recuperação da estabilidade econômica se fez sem recessão e com muita liberdade, respeitando os direitos de todos e sem jamais -jamais, mesmo- arranhar a democracia".
Crescimento
"Gostaria que os brasileiros soubessem que, através das ações desse ministério (Transportes), como no Ministério de Minas e Energia, como no Ministério de Comunicações, nós estamos retomando o ritmo de crescimento que, há muitas décadas, o Brasil não assistia."
Área social
"Desde o início do Plano Real, 13 milhões de brasileiros ultrapassaram os níveis de pobreza", disse.
Segundo FHC, "isso é sensibilidade social de um governo". Para ele, as vozes que em um momento ele chamou de "roucas" confiam, crescentemente, no Brasil.

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