São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Brinquedo 'correto' não pega no país

Fabricantes se desinteressam

JULIANA GARÇON
DA REPORTAGEM LOCAL

Becky, a Barbie com cadeira de rodas lançada com sucesso anteontem nos Estados Unidos, não emplaca no mercado brasileiro.
A opinião é de Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira de Brinquedos.
Aldir Queixa Giovani, diretor-presidente da Baby Brinke, segunda maior fabricante de bonecas do país, diz que "jamais lançaria Becky no mercado nacional". Ontem, antes de conhecer o resultado do lançamento, ele duvidava que a boneca fizesse sucesso nos Estados Unidos.
A principal resistência à novidade viria das mães, responsáveis por 65% das compras de brinquedos, de acordo com Costa. Ele acredita que os pais brasileiros não têm o hábito de discutir assuntos como deficiência física e gravidez com os filhos e estão despreparados para isso.
Para exemplificar, o presidente da Abrinq cita o caso da boneca grávida lançada pela Mimo há seis anos. Segundo Costa, os testes de aprovação, feitos com crianças antes de o produto ser lançado, alcançaram resultado positivo de 90%. Mas a boneca não conquistou o mercado porque as mães a rejeitaram.
Brinquedo de trabalho
Costa acrescenta que as meninas brasileiras gostam de bonecas que possam manusear sem medo de quebrar. "A Barbie com cadeira de rodas não parece ser um brinquedo para cair, torcer e jogar."
Ele diz que a Mattel, fabricante da Barbie, entrou em um nicho promissor nos Estados Unidos -o dos brinquedos politicamente corretos. Isso porque, explica, os norte-americanos discutem a questão do preconceito desde a infância.
Além disso, nos Estados Unidos há infra-estrutura para deficientes físicos, o que favorecerá Becky, afirma Costa.
Ele acredita que o gênero politicamente correto não emplaca no Brasil. Para Costa, o eixo Rio-São Paulo pode ser uma exceção.
Apesar de achar que bonecas como a Becky não têm mercado amplo no Brasil, Costa prevê que ela deve chegar logo ao país.
Ele próprio admite que teria resistência em comprá-la para dar de presente. "Não dá para esconder das crianças a realidade, mas teria medo de chocar."
Exploração
Giovani, da Baby Brinke, acha o lançamento da boneca uma iniciativa "extremamente ousada e arriscada". Para ele, a Barbie com cadeira de rodas pode favorecer a imagem da Mattel, mas também pode dar a impressão de que a empresa está explorando a desgraça alheia.
Ele diz que não daria a boneca de presente, pois acredita que não faria bem à criança "ver seu objeto lúdico com um problema".
Procurada ela Folha, a Estrela, distribuidora da Barbie no Brasil, informou que o diretor autorizado a falar pela empresa está viajando.

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