São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Mais energia, menos blecaute
MÁRIO MENEL A indústria da energia elétrica passa por grandes modificações no mundo todo. Novos modelos são implantados, procurando a adaptação mais adequada ao tipo de mercado a ser atendido.No Brasil, a transformação está em pleno andamento, embora com defasagem em relação a outros países, como a Argentina e o Chile, onde a reforma já foi completada. Fundamentalmente, a transformação dar-se-á de um modelo com forte intervenção do Estado para um no qual a pedra de toque é a promoção da competição. Do ponto de vista do consumidor, qual é a percepção do setor elétrico? Os consumidores consideram esse um serviço público essencial e avaliam melhor o seu valor quando falta energia elétrica em suas casas. Consideram elevado o custo final da energia, que atinge em média 8% do rendimento familiar, e esperam um serviço de melhor qualidade, a um preço menor. Esse também é, de resto, o desejo dos empresários. Qual o ponto de equilíbrio a ser buscado na configuração do setor elétrico na entrada do século 21? Vamos escutar e ter sempre em mente o desejo do consumidor -melhor serviço, menor preço. É possível? Sim, há espaço para sinalizar atratividade (retornos sobre capital) e concorrência (redução de tarifas). Até o momento, já se obteve sucesso na outorga de 63 MW em usinas que estarão concluídas nos próximos três a quatro anos. Já a Eletrobrás se dedica, para o aumento da oferta, à formação de parcerias visando à conclusão de obras paralisadas, a um programa de usinas termelétricas e à importação de energia de países limítrofes ao Brasil. É um programa para os próximos três anos, capaz de agregar aos sistemas elétricos brasileiros uma capacidade instalada de 8.592,3 MW, ou seja, 15,6% de toda a capacidade hoje disponível (56 GW). No curto prazo, não há opções: na defesa do interesse dos consumidores, as ações têm de ser na direção de aumentar, e em alta velocidade, a oferta de energia, para que o setor possa sustentar pelo menos um crescimento do PIB da ordem de 5% ao ano e afastar os riscos de blecaute. As dúvidas surgem na elaboração do modelo para a fase seguinte à de transição. O governo não pode falhar. Sabe que já perdeu, no final da década de 80, a oportunidade de reestruturação do setor. A falta de determinação política atrasou as reformas em dez anos. Agora, atropelado pela necessidade premente de expandir o sistema contando com parcela significativa de capital privado, as condições para a elaboração do conceito e implantação do modelo são mais complexas e demandarão uma fase de intrincadas negociações. As dificuldades serão superadas com maior facilidade à medida que as mudanças tiverem apoio popular. Para isso, é necessário que se tenha sempre em mente o atendimento às necessidades do consumidor. É chegada a hora de divulgar, junto aos representantes da população, o que vai ser proposto e qual a conceituação básica imaginada. E é bom convencer a sociedade e seus representantes de que esses princípios atendem aos anseios do consumidor. Ações que não conduzam a esse caminho proporcionarão um modelo "colcha de retalhos", sem homogeneidade e sem o atendimento ao que todos esperamos quando se faz um esforço no sentido de promover uma reforma. Governo e consumidores terão então perdido mais uma oportunidade de contar para nosso desenvolvimento com um setor elétrico capaz de suportar o necessário crescimento econômico, indispensável para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. Esperamos que isso não aconteça. Texto Anterior: Teto dos juros: regulamentar ou extinguir? Próximo Texto: Banco Mundial vê risco em privatizar Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |