São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Resistência pode gerar 'supervírus'

Mau uso de medicamento pode tornar HIV resistente

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO A SALVADOR

Enquanto contam-se os dias para a primeira possível derrota do HIV, os especialistas alertam para o perigo da resistência que pode transformá-lo em um "supervírus". Estima-se que entre 1% e 2% dos pacientes desenvolvam uma resistência natural a todos os remédios disponíveis.
A grande massa em perigo, no entanto, é formada por milhares de doentes que não conseguem tomar a dúzia de cápsulas que formam o coquetel de medicamentos, que precisam ser engolidos em horários certos, ao longo do dia. Interromper ou usar mal os remédios pode gerar rapidamente vírus resistentes a todos os remédios.
"A resistência é hoje a questão central da terapia, é o calcanhar de Aquiles", diz Gerald Friedland, da Universidade de Yale.
No Brasil, mesmo hospitais de referência não conseguem manter um controle sobre quem está recebendo ou não os medicamentos.
Segundo Caio Rosenthal, do Hospital Emílio Ribas, muitos médicos prescrevem combinações erradas ou medicação única. Segundo ele, o Ministério da Saúde deveria investir na preparação de profissionais e em equipes que pudessem orientar os pacientes e conferir o uso adequado de remédios.
Uso correto
David Uip, da Casa da Aids do Hospital das Clínicas, diz que um levantamento do ministério revelou a existência de um grande número de prescrições incorretas. A soma de todos os antiretrovirais disponíveis permite até 200 combinações diferentes, muitas delas perigosas para o paciente.
"A resistência viral precisa ser considerada com a maior seriedade", diz André Lomar, da Sociedade Pan-Americana de Infectologia.
Aprender a usar corretamente os medicamentos vem sendo uma das formas de se evitar a resistência, diz John Martin Leonard. Outro caminho é o que a maioria dos laboratórios segue: investem em pesquisas que resultem em formas mais práticas de se aderir ao medicamento. Uma delas -diz Carl Cohen, da Escola de Medicina de Harvard (EUA)- é associar os muitos remédios tomados durante o dia num único tablete. Drogas de diferentes laboratórios poderiam ser juntadas num só remédio.
Outra frente são investimentos em novos medicamentos, mais potentes, com menores dosagens, menos efeitos colaterais e menor risco de criar resistência.
Vários laboratórios estão pesquisando uma segunda geração de inibidores de protease que poderia ser uma resposta aos danos provocados pela resistência viral. Um deles é o ABT-378, da Abbott, que promete ser dez vezes mais potente e que deve chegar ao mercado em três anos. O Brasil está entre os países que devem participar da pesquisa com essa droga.
(AB)

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