São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Economista inglês diz que câmbio não traz surpresa

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Neil Dougall, 48, economista-chefe do banco de investimento britânico Kleinwort Benson, que pertence do grupo financeiro Dresdner, da Alemanha, diz que o fato mais relevante da economia brasileira no momento é a profunda mudança de uma mentalidade de curto prazo para uma cultura de longo prazo.
Segundo Dougall, o Plano Real, além de estabilizar a economia, liquidando com a inflação galopante, enterrou a mentalidade dos pacotes, "pacotaços" e medidas drásticas, o que deixa os investidores estrangeiros mais confiantes na consolidação a médio e longo prazos da economia brasileira.
Um exemplo do fim da época dos choques está na atual discussão sobre a sobrevalorização do real em relação ao dólar.
Embora acredite que o real está sobrevalorizado em pelo menos 10%, Dougall acha que o governo vai evitar qualquer mudança brusca na política cambial.
Por isso, Dougall avalia em menos de uma, numa escala de um a dez, as chances de uma forte desvalorização cambial para corrigir os déficits externos.
Ele diz não ter dúvida de que o Brasil entrará numa fase de crescimento sustentado, passada a atual fase de transição, porque uma sociedade, quando tem o gosto de conviver com a estabilidade, aceita sacrifícios temporários em troca de se livrar do espectro da inflação.
Em uma de suas visitas regulares ao Brasil, Dougall, especializado na economia da América Latina, disse que o escândalo da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, revelado pela Folha, enviou sinais negativos ao exterior.
Afirmou, porém, que, depois de uma análise mais profunda da situação, a impressão, pelo menos até agora, é de que o episódio é localizado e não vai causar danos à reputação do presidente FHC junto aos investidores estrangeiros.
Dougall concorda que a deterioração das contas externas e o desequilíbrio fiscal são os dois grandes problemas da economia brasileira.
"O crescimento das exportações começa a mostrar leve recuperação, mas a contínua e rápida expansão das importações é uma grande dor de cabeça. Espero novas restrição ao crédito", disse.
Cenários para 98
Dougall diz não acreditar que a deterioração das contas externas dificulte a reeleição do presidente FHC, caso ele venha de fato a se candidatar a um segundo mandato, porque o governo tem ainda tempo para adotar medidas para reverter em parte a situação.
Dougall faz as seguintes projeções outubro de 1998: déficit comercial de US$ 14 bilhões, resultante de um crescimento das exportações de 6% e das importações de 22%; déficit em conta corrente de 4% do PIB; crescimento do PIB de 4%; taxa de inflação de 8% e uma desvalorização de 7% da taxa de câmbio sobre outubro de 1997.

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