São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Taxas de juros dos EUA viram referência

VIVALDO DE SOUSA

VIVALDO DE SOUSA; GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se a conjuntura internacional favorável for revertida, crescerá necessidade de medidas duras anticonsumo

GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia da Sucursal de Brasília
A disparada do déficit externo nos primeiros quatro meses do ano fez com que o governo passasse a administrar a política econômica com um olho nas taxas de juros dos EUA.
O raciocínio é o seguinte: enquanto os juros internacionais permanecerem favoráveis e houver abundância de capitais para investimentos externos, o país conseguirá compensar com razoável facilidade os déficits comerciais e na conta de serviços, que inclui os pagamentos de juros e as remessas de lucros.
Mas, se a conjuntura internacional favorável for revertida, crescerá a necessidade de medidas mais duras para conter consumo e importações, além de outros "ralos" das contas externas.
O déficit em transações correntes -que mede a dependência em relação aos investimentos externos- foi de US$ 10,7 bilhões de janeiro a abril deste ano (US$ 5,7 bilhões no mesmo período de 96).
A Folha apurou que o governo considera possível conviver com os déficits dessa magnitude por mais dois ou três anos.
Até lá, o governo poderia fazer o ajuste fiscal, reestruturar o setor produtivo, aumentar as exportações e aprovar as reformas administrativa e da Previdência Social.
Depois desse período, as principais privatizações já teriam sido feitas e a remessa para o exterior dos lucros e dividendos dos recursos aplicados no Brasil estariam muito maiores do que hoje -foram de US$ 2,01 bilhões entre janeiro e abril deste ano (US$ 941 milhões no mesmo período de 96).
A previsão dos ministérios da Fazenda e do Planejamento é que o ingresso de investimentos diretos (na produção) este ano fique entre US$ 12 bilhões e US$ 15 bilhões.
Isso significará um crescimento entre 26,32% e 57,89% sobre o total de 96: US$ 9,5 bilhões.
"Boca do jacaré"
Nas conversas informais, os técnicos do governo dizem que é importante mostrar ao mercado que a "boca do jacaré" vai fechar.
A expressão é usada para explicar o aumento das importações e a manutenção das exportações num nível abaixo do esperado.
O fechamento da "boca do jacaré" seria, portanto, o aumento das exportações e uma redução do ritmo de crescimento ou estabilidade das importações. O governo acredita que esse cenário deve ficar mais claro a partir de junho.
"O importante não é discutir a balança comercial, mas o que o governo está fazendo para melhorar a competitividade da indústria brasileira", diz Amaury Bier, chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento.
Embora em declarações as equipes dos ministros Pedro Malan (Fazenda) e Antonio Kandir (Planejamento) sustentem que não há motivos para preocupações, as medidas tomadas desde o início do Real mostram que o governo não pretende correr o risco de ver comprometer o programa por uma crise de escassez de dólares.
Um exemplo disso é a política de desvalorização do real, tocada desde março de 95. Até então, a equipe econômica referendava a tese que as cotações dos dólares deveriam ser regidas pelo mercado.
Segundo o raciocínio de técnicos ligados à equipe, o governo só enfrentará uma crise cambial se deixar de governar. Ou seja, se não tomar as medidas que estão ao seu alcance para evitar uma escalada ainda maior do déficit externo.

Texto Anterior: Ibrahim Eris defende liberação do câmbio
Próximo Texto: Cerco a cartão deve economizar US$ 600 milhões
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.