São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Dinâmica perversa e caótica dispara os pânicos cambiais

Estudo recente busca explicar como começam as catástrofes

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A sabedoria dos economistas na área cambial poderia ser resumida numa frase, que inverte um velho ditado: "quem espera, nunca alcança".
Talvez seja impossível definir com precisão empírica ou certeza teórica o que é taxa de câmbio "de equilíbrio", mas é espantoso o número de vezes em que fica evidente ser taxa fora do razoável.
Nessas situações, adiar algum tipo de correção agrava o problema.
Há um texto recente, mas que já é um clássico, comparando vários casos recentes, escrito pelos economistas Rudiger Dornbusch, Ilan Goldfajn e Rodrigo O. Valdés ("Currency Crises and Collapses"). Eles examinam os casos do Chile (1978-1982), México (1978-1982), Finlândia (1988-1992) e novamente México (1990-1994) como exemplos de colapso.
Os exemplos de crise cambial mais moderada são extraídos do sistema monetário europeu, onde a Itália, a Espanha e o Reino Unido tentaram forçar uma convergência com a inflação alemã. As "âncoras cambiais" acabaram ruindo.
Mas qual, afinal, é o estopim dos pânicos cambiais? Para esses economistas, há uma dinâmica perversa que se alimenta de expectativas infundadas e termina em surpresa de dimensões catastróficas.
O problema resulta "tanto das políticas que criaram a vulnerabilidade quanto dos credores que abandonam o barco. Nessas situações, os responsáveis pela política econômica são invariavelmente surpreendidos pela forma como os mercados repentinamente se voltam contra eles e pelo seu grau de subestimação da própria vulnerabilidade. Os mercados, por sua vez, são surpreendidos pela pouca liquidez que afinal se revela quando todos os credores amontoam-se tentando fugir ao mesmo tempo. Essa combinação produz um colapso caótico e a ruptura das finanças. Mais: como o regime tipicamente depende de um forte apelo à credibilidade, qualquer ação que a solapa desorienta profundamente os credores, agravando a escassez de crédito".
Diante das evidências, resta apostar que o caso brasileiro seja uma exceção. Ou será melhor começar a rezar por uma forma tropical de "exuberância irracional"?

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