São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Economistas defendem a depreciação

Reformas têm efeito lento

DA REPORTAGEM LOCAL

A possibilidade de o Brasil reequilibrar suas contas correntes depende mais da desvalorização do real do que de reformas estruturais, afirmam economistas ouvidos pela Folha.
Segundo esses economistas, os efeitos positivos de reformas como a previdenciária e a fiscal demoram a aparecer e o governo FHC não poderia contar com elas para reverter o déficit a curto prazo.
Luciano Coutinho, professor da Unicamp, acha que uma boa reforma fiscal teria o mesmo efeito de uma desvalorização de 3% a 4%.
Essa desvalorização, afirma Coutinho, só resultaria em ganhos de competitividade para setores que agregam valor (ou seja, aqueles que possuem uma cadeia de produção mais complexa e que, portanto, pagam mais impostos).
"Para os setores que fazem produtos de baixo valor agregado o efeito seria quase zero", diz ele.
Coutinho lembra também que o governo não pode promover uma reforma fiscal profunda, na qual o Estado tenha uma perda muito grande de arrecadação.
Uma baixa geral nos impostos, acredita, poderia agravar o déficit público, cujo controle é importante no equilíbrio das contas do país.
Ajuste
O colunista da Folha e professor da Fundação Getúlio Vargas Paulo Nogueira Batista Jr. também afirma que a aprovação das reformas constitucionais não teria um grande efeito fiscal a médio prazo.
Batista Jr. acha que o governo poderia realizar um ajuste fiscal, independentemente das reformas constitucionais, que criasse o ambiente para a depreciação do real.
Segundo ele, esse ajuste seria o ponto central de uma reorientação da política macroeconômica que permitiria ao país ficar menos dependente do câmbio e dos juros altos, que inibem o crescimento.
"Hoje nós temos uma política fiscal frouxa, uma política de crédito apertada e um regime cambial rígido. Apertando na política fiscal, o governo poderia aliviar a política de crédito e permitir a depreciação gradual do câmbio", diz.
Nogueira Jr. condenou a contenção do nível de atividade como forma de reverter os resultados da balança comercial.
Para ele, medidas recessivas conseguiriam reverter o déficit, mas a situação só se manteria durante o período de estagnação.
"O governo não pode manter o país em recessão por um longo tempo. E, quando a economia voltar a crescer, o problema retorna", acredita.
"As importações estão crescendo não por causa de um aquecimento do consumo, mas pela grande e persistente valorização cambial", explica.
Negociação
O professor da USP Paul Singer propõe uma negociação, por meio de câmaras setoriais, para permitir uma desvalorização planejada e que não tenha como consequência uma explosão inflacionária.
Essa volta da inflação, que seria causada pelo fato de muitos produtos brasileiros utilizarem componentes importados (que ficariam mais caros com a desvalorização), acabaria anulando os efeitos da depreciação, afirma Singer.
"Uma desvalorização seria benéfica para todos. Diminuiria as importações, ampliando o mercado para as empresas, e estimularia as exportações, o que poderia aumentar o nível de emprego."

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