São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiro prefere hora extra em folga

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando você trabalha aquelas horinhas a mais, como prefere ser recompensado? Em dinheiro ou em folga? Dois países, duas realidades: Estados Unidos e Brasil.
Em comum, apenas o desemprego. Mas o trabalhador norte-americano, com salários melhores, prefere dinheiro vivo -o brasileiro não dá muita bola para isso.
"Não resolve a vida de ninguém. O trabalhador faz por necessidade, pressão ou solidariedade aos colegas", dispara Eleno José Bezerra, 40, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
O dinheiro a mais, afirma, é irrisório: "Se fizéssemos uma pesquisa, a maioria preferiria folga. A hora extra não aumenta o salário, não é todo dia que se ganha".
"Receber pela hora extra é uma ilusão. Muitos estão inadimplentes por contar com um trabalho extra que não aconteceu", diz Adi dos Santos Lima, 41, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Número recorde
A economia aquecida favorece o trabalho extra. Dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) revelam que, em março, 48,5% dos trabalhadores da Grande São Paulo fizeram hora extra.
O número é recorde desde março de 95. E não há, aparentemente, nenhum motivo -como, por exemplo, aumento no consumo típico de fim de ano, quando há festas e pagamento do 13º salário.
A preferência por folga ou dinheiro tem duas variáveis: nível hierárquico e tipo da empresa. Os executivos, mais beneficiados por salários flutuantes, não dão tanta importância às horas extras.
Há explicações para o fato de o trabalhador da indústria preferir folgar. "O metalúrgico brasileiro é um dos mais bem remunerados", diz Edison Belini, 44, diretor da agência de empregos Manpower.
"Há uma pressão sindical fortíssima para que eles não façam horas extras, que tirariam o lugar de outros." Para Belini, nas áreas administrativa e industrial, mais especializadas, receber em dinheiro não tem o mesmo apelo das folgas.
Jornada informal
Em algumas empresas, é comum a hora extra informal. Ou seja, ficar aquele tempinho a mais por dia, que nunca será recuperado, nem em dinheiro nem em folga.
Para evitar esse tipo de insatisfação, o empresário Christian Burgos Miguez, 24, prefere recompensar seus funcionários em dinheiro: "Eles ficam mais motivados".
Segundo a Manpower, quem recebe de R$ 250 a R$ 600 e tem condição de pleitear comissão por produtividade, prefere o dinheiro.
"Cheguei a receber o dobro do salário no fim do mês. Prefiro dinheiro", diz Edson de Sousa, 23, operador de micro da loja Domaine (SP). Seu salário: R$ 600.
Outros, submetidos a jornadas incomuns, preferem mesmo folgar. "Não há o que discutir", diz Rebeca Bianchi, 20, que trabalha no Caesar Tower, entre 15h e 23h.

Texto Anterior: Titãs deram aula de música e de artes
Próximo Texto: Nos EUA, empregado escolhe o horário de entrada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.