São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Na ponta dos cascos, Tricolor ameaça Verdão

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A comissão técnica do São Paulo anda espalhando aos quatro ventos que o time está na ponta dos cascos. O professor Turíbio, outro dia, chegou ao extremo de assegurar que esse grupo de jogadores atingiu o estágio em que aquele tricolor do início da década navegou, velas enfunadas, em direção à conquista do bi mundial.
Não disponho dos dados fisiológicos e dos gráficos dos responsáveis pela preparação física do São Paulo. Apenas de um par de olhos incrementados por duas poderosas lentes e treinados no exercício de ver futebol há mais de 45 anos, o suficiente para dizer que isso está na cara: essa meninada -não sei se movida pela própria juventude, pela leveza do talhe ou pelos aminoácidos receitados pelos professores- corre como serelepe.
Já o Palmeiras tem transmitido a sensação de que desacelerou diante do disco de chegada. Talvez, sentindo o peso da responsabilidade de ainda ser considerado o favorito, talvez pela sobrecarga da ausência de reservas à altura dos titulares, ou, quem sabe, ainda grogue pela pancada que lhe desferiu o Corinthians naquela goleada histórica.
E futebol, se é sobretudo talento, é também preparo físico e anímico.
Completinho, o Palmeiras vence, disparado, esse cotejo, no item essencial, embora aparentemente perca nos complementos.
O diabo, porém, é que, esta tarde, o Verdão corre o risco de entrar em campo, mais uma vez, desfalcado. E desfalcado de jogadores-chave, como Cléber, praticamente o miolo todo da zaga. Além da sua dupla de artilheiros -Luizão, que se foi em má hora, e Viola.
E mais: Marquinhos, que vinha dando ao meio-campo o toque de agressividade indispensável para um time que joga com três volantes por ali. Quer dizer: joga remendado nos três setores -defesa, meio-campo e ataque.
É muito, para um clássico dessa envergadura.
*
Não sei quem, lá no Sul -desconfio que seja o Lauro Quadros-, revelou o segredo desse Grêmio interminavelmente campeão: esse Grêmio, simplesmente, se nega a perder. Pode trocar de técnico; sai jogador entra outro; seja a decisão lá, cá ou acolá, não interessa, o tricolor gaúcho, no fim das contas, leva a taça.
Talvez tenha a alma em forma de cabide, que não lhe permite vergar-se diante de qualquer situação, como costumava metaforizar o saudoso Kid Jofre, pai do nosso Galo de Ouro, Eder, ao explicar a diferença entre um verdadeiro campeão de boxe e outro apenas ocasional. O fato é que não cai. Pode ir à lona, nunca a nocaute.
Mas, na decisão da Copa do Brasil, deu-me a revelação: naquele impreciso instante de qualquer partida decisiva, entre os 30 e 40 minutos do segundo tempo, quando adensa-se no ar a certeza de que o placar está definido, os jogadores, naturalmente, reduzem o ritmo, baixam a vigilância, desligam-se, até. Pois é aí que o Grêmio dá o bote. No momento da tácita trégua, é que ele ataca e mete a mão na taça. Foi assim com o Flamengo. Assim tem sido. E, pelo visto, assim continuará sendo.

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