São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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CD é de pop desconjuntado

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um prólogo é necessário ao caso: o novo disco de Paulinho Moska chama-se "Contrasenso", assim mesmo, contrariando o bom senso, a fonética ("contrazenso"?) e o velho Aurélio, que manda escrever "contra-senso".
Afora questões gramaticais -e nossos artistas que escrevem poemas têm se mostrado pouco atentos a elas-, este é o terceiro disco solo do artista, até hoje marcado pelo passado incômodo com a banda Inimigos do Rei, aquela que pisava na barata chamada Kafka.
Daquele tempo até "Contrasenso", tudo mudou para Moska. Carreira solo adentro, ele passou a ser celebrado por artistas como Gilberto Gil, o ex-mutante Sérgio Dias e Marina Lima (que gravou, em sua homenagem, a instrumental "Ode a Paulinho Moska").
"Contrasenso" continua a fazer Marina parecer exagerada, legitimando Moska como intérprete de voz curta e compositor de pop inofensivo.
Guardadas as proporções da seriedade que o artista tenta em seus discos solo, ele ainda assim se mantém nas fileiras do pop gracinha inventado, no Brasil, pela Blitz, lá em 1982.
Ao tom de pop inconsequente que imprime em faixas como "Me Chama de Chão", acrescenta levadas regionalistas, como em "Relampiano" e "Paixão e Medo".
A primeira foi composta em parceria com Lenine e tem ritmo marcado pelo pandeiro de Suzano; a segunda é um reggae que vira baião. Estão aí para justificar a simpatia de Gil: assemelham-se dramaticamente à obra do próprio.
São essas mesmas canções que fazem lembrar que o pop que Moska faz é muito, muito carioca. Soam desconjuntadas, mais estranhas ainda que a new wave temperada de seriedade praticada em quase todo o disco. Torna-se complicada a questão: Moska parece artista pertencente a uma geração perdida -a dos 80-, que, nos 80, não se adapta a qualquer dos nichos a que se pretenda encaixar.
Barata Kafka esmagada pela chinela, Moska, anti-herói por geração, tem que se lançar aos tubarões. Pop não é fácil, não.

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