São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Homens de Kabila dispersam protesto a tiros

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Cerca de mil estudantes da Universidade de Kinshasa ocuparam ontem as ruas da capital da República Democrática do Congo (ex-Zaire) em protesto contra o novo presidente do país, Laurent Kabila.
Segundo testemunhas, as forças de segurança, que até pouco mais de uma semana atrás eram parte de uma guerrilha, dispararam tiros para o alto, o que dispersou a maioria dos manifestantes -cerca de 200, entretanto, continuaram a marcha.
A principal razão das primeiras manifestações contra o novo governo é o fato de o popular Etienne Tshisekedi ter ficado de fora do novo governo. Ele reivindicava o cargo de primeiro-ministro em um governo de transição, mas Kabila criou um regime presidencialista e deu a si mesmo plenos poderes.
Tshisekedi foi o líder civil da oposição ao presidente Mobutu Sese Seko, que fugiu do país com o avanço das forças de Kabila.
A marcha de ontem foi maior do que outra ocorrida na sexta-feira, o que indica que a oposição a Kabila na capital está crescendo. "Queremos os ruandeses fora, Kabila vendeu o país", disse o estudante de medicina Henri Olenga.
Ele se referia à grande presença de congoleses de etnia tutsi entre as tropas de Kabila. Esses tutsis, chamados banyamulenges, vieram há cerca de 200 anos do território que hoje é Ruanda. Muitos congoleses nem mesmo os consideram compatriotas.
O estudante se referia também ao apoio que Ruanda, país dominado pelos tutsis desde o final da guerra civil contra os hutus, deu à vitoriosa ofensiva de Kabila.
A exclusão de Tshisekedi também causou protestos em Mbuji-Mayi (centro-sul). Eles ocorreram na sexta-feira e foram relatados ontem por moradores. Mbuji-Mayi, um importante centro minerador, já está sob comando da Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo, o grupo de Kabila, há várias semanas.
Minissaia
As novas autoridades recuaram em suas medidas de moralidade pública e anunciaram ontem que vão permitir que as mulheres do ex-Zaire usem minissaias e calças justas. Na quinta-feira, a rádio Voz do Povo, emissora estatal, disse que as mulheres deveriam "se vestir com dignidade", razão pela qual tais roupas estavam proibidas.
Na noite de sexta-feira, o novo governador de Katanga, Gaetan Kakudji (que é sobrinho de Kabila), disse que o novo regime está empenhando em garantir o pluralismo e os direitos de toda a sociedade.

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