São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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REFORMA URGENTE

As biografias políticas dos comprovadamente envolvidos no escândalo da reeleição dão bem a medida da urgência das reformas políticas.
Um dos deputados que alardeou alegremente ter vendido seu voto, Ronivon Santiago iniciou sua carreira no extinto PDS, foi eleito deputado pelo PMDB (votou contra o impeachment de Collor) e reeleito em 94, dessa vez pelo PPR, passando depois ao PFL. Conseguiu seu último mandato com cerca de 7.000 votos.
João Maia, protagonista da segunda fita divulgada pela Folha, não tem uma história muito diferente. Passou pelo PT, PP, PSDB e PFL.
A trajetória desses deputados -comum à de tantos parlamentares- delineia mais do que inconsistência ideológica. O baixo padrão moral que escândalos sucessivos vêm revelando indica coisa pior. A falta de consistência política é, na verdade, estimulada talvez por dinheiro, comumente pela oferta de cargos e por outros conluios. Mecanismos que impusessem alguma fidelidade partidária poderiam ao menos diminuir o valor e a atração das moedas podres do balcão do Congresso.
Outro aspecto saliente da vida política de Ronivon e Maia, compartilhado com seus colegas de Estados pouco povoados, é a falta de representatividade. Instrumento do regime militar, a engorda artificial de bancadas foi ainda reforçada depois da volta da democracia. Se no Acre alguém chega à Câmara com meia dúzia de milhares de votos, em São Paulo necessita-se, no mínimo, de 26 mil.
Um ambiente político mais sério pediria ainda um sistema como o do voto distrital misto, que tornaria o parlamentar mais visível e fiscalizável pelos eleitores, que, ademais, não veriam diminuído seu poder de determinar a composição da Câmara.
Essas e outras distorções -como a obrigatoriedade do voto, que dá margem ao clientelismo- devem ser objeto de reforma urgente, sob o risco de se perpetuarem vícios que, além de desvirtuar o sistema político, degeneram até em casos policiais.

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