São Paulo, domingo, 25 de maio de 1997
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Canal no ABC não tem funcionário

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Instalada em uma casa térrea no bairro de Vila Nova Gerti, em São Caetano do Sul (no ABC), o Canal 45 (em UHF) ostenta uma torre de 68 metros de altura. Mas não tem nenhum funcionário registrado e, a menos de 500 metros do local, sua imagem já apresenta chuviscos.
O Canal 45 -que se chamava TV São Caetano até outubro passado- pode ser chamado de emissora doméstica.
É uma das 136 RTVEs (retransmissoras que repetem emissoras educativas e também exibem programação própria).
Mas, ao contrário das retransmissoras mistas comerciais, as RTVEs não podem exibir publicidade. Sobrevivem de apoios culturais de empresas.
O Canal 45 existe desde 1989. Fica no ar das 10h à 0h30. Até as 18h, retransmite a programação da TVE, do Rio de Janeiro.
A partir das 18h, a emissora exibe sua única produção própria -um telejornal regional- e programas feitos por "colaboradores" -entre eles, "Trivial e Variado" (uma coluna social local) e o esotérico "Momentos da Nova Era".
O telejornal tem apenas um editor -que também é apresentador- e duas equipes de repórteres e cinegrafistas. As fontes de suas principais manchetes são as assessorias de imprensa das prefeituras do ABC. Ou seja, material oficial dos prefeitos.
Os profissionais que preparam o telejornal ou são recém-formados ou estudantes de jornalismo. "Aqui todo mundo aprende a fazer de tudo. O repórter orienta o câmera, que por sua vez é motorista. Depois ele vem para o estúdio e edita a reportagem. É como o cara que apita o pênalti, chuta a bola e corre para defender", diz Anderson Zambeli, diretor de TV do Canal 45.
Laboratório
Zambeli afirma que a emissora acaba funcionando como um laboratório para estudantes.
No estúdio, em uma sala, comprimem-se três cenários. No fundo, há um balcão com painel azul, onde é apresentado o telejornal. Em uma das laterais, um painel com fotos de astros do cinema e da música dos anos 50 serve de ambiente para um programa de clipes. Do outro lado, cinco cadeiras, uma mesa de centro e uma estátua são o cenário do programa esotérico.
"Trabalhamos em um padrão simples", diz Zambeli, sobre o teleprompter (aparelho em que o apresentador lê a notícia e olha para a câmera ao mesmo tempo) improvisado em um caixote de madeira.
Nos fundos da casa, ficam a torre e, numa sala refrigerada, o transmissor de 1 kW (do tamanho de uma geladeira).
No quintal, caixas de papelão com etiquetas com o nome do prefeito de São Caetano do Sul, Luiz Olinto Tortorello, "entregam" o dono da emissora -que oficialmente pertence a uma entidade sem fins lucrativos.
Assim como o Canal 45, existem outras 108 retransmissoras mistas da TVE no país. A Cultura tem 27 retransmissoras desse tipo.

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