São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 1997
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EUA descobrem Peru pré-colombiano

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

A latinidade presente no cotidiano de San Francisco fica ainda mais pulsante a partir desta semana. O museu M.H. de Young Memorial recebe 175 vasos de cerâmica, jóias e artigos têxteis raros que traçam a trajetória de onze civilizações que habitaram o Peru. As peças têm até 2.000 anos e nunca haviam deixado o país.
Também o Museu Mexicano e várias galerias locais se unem ao de Young e abrem exposições fotográficas e folclóricas com temas relacionados.
A exposição "O Espírito do Peru Antigo: Tesouros do Museu Arqueológico Rafael Larco Herrera" apresenta aos visitantes parte da maior coleção arqueológica privada do mundo e fica em cartaz até 10 de agosto.
A mostra é resultado de um esforço de quase três anos de Kathleen Berrin, curadora de arte da África, Oceania e Américas do de Young, e Elizabeth Benson, especialista em arte peruana.
"Não seria errado dizer que demos uma olhada nas 48 mil peças do acervo do Museu Larco Herrera", diz Elizabeth.
Tanto esforço resultou numa mostra sucinta e elucidativa da história peruana, principalmente por meio dos vasos. No Larco Herrera, que fica em Lima, todas as 48 mil peças são expostas ao público (veja matéria ao lado).
"São prateleiras e mais prateleiras de vasos com forma de aves, depois vêm as lhamas, os peixes e por aí vai", afirma Kathleen. "Com tanta variedade, o visitante leigo acaba ficando confuso."
Didática e bilíngue
As legendas bilíngues (em inglês e espanhol) do M.H. de Young reforçam o didatismo da exposição e mostram um esforço em atingir também o público latino da região.
Uma sala de realidade virtual "leva" o visitante a 14 sítios arqueológicos peruanos. "É a primeira vez que um museu usa a tecnologia para colocar o público em contato com o meio ambiente em que as obras foram criadas", afirma Kathleen.
Meio ambiente é realmente a única chave para interpretar as manifestações artísticas peruanas. Afinal, em apenas 125 milhas de extensão (201,17 km) o país lida com 20 zonas climáticas distintas.
Usando mapas e textos arqueológicos, o museu mostra que, sem deixar registro escrito, 11 civilizações floresceram e desapareceram no país.
Exemplares de cerâmicas, joalherias e artigos têxteis dos povos chavin, cupinisque, salinar, viru, moche, paracas, nasca, lambayeque, huari, chimu e inca fazem parte da exposição.
Segundo Elizabeth Benson, os vasos de cerâmica de bico duplo -encontrados em várias expedições arqueológicas enterrados no deserto- são uma pequena amostra do que os conquistadores espanhóis do século 16 destruíram.
"Praticamente toda a arte em prata e ouro desenvolvida pelos incas foi derretida e levada para a Espanha", diz Elizabeth. "Mas a areia do deserto tem sais conservantes que mantiveram quase intactas as cerâmicas."
Arte indecifrada Para recontar a história de tais povos, os arqueólogos tentam até hoje decifrar os significados das figuras retratadas ou moldadas em vasos de dois bicos. "São encontrados em covas funerárias e isto nos mostra que a crença na vida após a morte era comum na região", afirma Elizabeth.
"Mas não temos idéia de onde surgiu o formato que se repete durante milhares de anos, diz.

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