São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 1997
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Remédio fez jovem matar, diz advogado

Antidepressivo e álcool teriam alterado consciência

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

A defesa de um dos dois adolescentes acusados de matar um homem de 44 anos no Central Park quer responsabilizar "a indústria do Prozac" pelo assassinato.
Robert Fogelnest, advogado de Christopher Vasquez, 15, declarou que seu cliente perdeu a razão devido à mistura de antidepressivo com bebida alcoólica.
"Ele estava tomando um remédio chamado Zoloft, que é da família do Prozac, para superar a separação dos pais. Ao misturá-lo com álcool e outras substâncias químicas, o indivíduo pode ter um acesso de loucura", disse Fogelnest.
"O erro foi de quem receitou o remédio a um garoto de 15 anos, que sempre se mostrou um rapaz gentil, educado, estudioso."
Vasquez e Daphne Abdela, 15, foram vistos horas antes do crime, na madrugada de sexta, bebendo cerveja no Central Park com a vítima, identificada como o agente imobiliário Michael McMorrow.
Assédio
Segundo a polícia, os adolescentes tentaram esquartejar o corpo para dificultar a identificação. McMorrow recebeu mais de 50 facadas no rosto, nas costas, no pescoço, nos braços e no estômago e foi jogado no lago do parque. Os dois são ainda acusados de terem roubado dinheiro da carteira da vítima.
Vasquez e Abdela estavam namorando havia seis semanas. Apesar de ter sido encontrada com a roupa suja com o sangue de McMorrow, Abdela afirmou que "apenas presenciou o crime".
Em depoimento contraditório, ela chegou a dizer que o motivo do ataque foi a tentativa de McMorrow de assediá-la sexualmente.
Os dois serão julgados como se fossem adultos (a lei local prevê um exame de cada caso, em situações como essa), correndo o risco de condenação à prisão perpétua.
Ex-coroinha de uma igreja católica, Vasquez estudava na Beekman, uma das mais tradicionais escolas particulares de Nova York, e não apresentava passagens anteriores pela polícia.
Filha adotiva de um executivo de uma das principais indústrias do gênero alimentício dos EUA e de uma ex-modelo francesa, Abdela tentava encontrar seus pais verdadeiros. Na semana passada, havia sido expulsa da escola.
A vítima, que morava com a mãe num apartamento em Manhattan, costumava beber no Central Park à noite.
Segurança
O prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, voltou a declarar ontem que o assassinato foi um caso isolado. "Hoje o Central Park é seguro. As pessoas sabem disto e só deixam de frequentá-lo em dias chuvosos como o de hoje(ontem)", afirmou.
Apesar do comentário de Giuliani, as estatísticas mostram crescimento no número de ocorrências policiais no Central Park nos primeiros cinco meses de 1997, em relação a igual período do ano passado.
Em 1996, foram registradas 46 ocorrências. Em 1997, o número já chegou a 56.

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