São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997
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Fóssil muda chegada do homem à Europa

VANESSA DE SÁ
EDITORA-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

A descoberta do Homo antecessor, provavelmente o fóssil europeu mais antigo -teria cerca de 800 mil anos-, por pesquisadores espanhóis pode mudar a evolução humana e puxar para trás a chegada do homem à Europa. Até agora cientistas acreditavam que a chegada do homem ao continente teria ocorrido há aproximadamente 500 mil anos.
O mais antigo fóssil encontrado até então pertence ao homem de Heidelberg, que teria vivido há 470 mil anos.
Segundo um dos descobridores do novo fóssil, o espanhol José Maria Bermúdez de Castro, o Homo antecessor seria encontrado na Europa há pelo menos 1 milhão de anos.
Não é só. Bermúdez de Castro propõe que a nova espécie seja o ancestral comum do homem moderno (o Homo sapiens) e do homem de Neanderthal (Homo neanderthalensis).
"A origem do homem de Neanderthal na Europa pode se tornar mais clara a partir de agora. Propomos que o Homo antecessor tenha originado localmente (na Europa) os neandertais", disse o pesquisador à Folha.
Acredita-se que cerca de 2,5 milhões de anos atrás tenham surgido, na África, os primeiros humanos, isto é, animais pertencentes ao gênero "humano", Homo.
Segundo Bermúdez de Castro, há oito espécies de gênero Homo conhecidas. "Na África havia o Homo rudolfensis, o Homo habilis e o Homo ergaster. Não sabemos qual a relação entre eles, mas propomos que o novo fóssil se originou a partir do Homo ergaster, uma espécie de humano que já era capaz de fabricar instrumentos elaborados", disse à Folha.
Segundo ele, um grupo de Homo antecessor teria saído da África há pelo menos 1,2 milhão de anos e já estaria na Europa há pelo menos 1 milhão.
Lá, teria originado o homem de Neanderthal, espécie extinta há cerca de 30 mil anos.
"Mas outro grupo de Homo antecessor deve ter ficado na África e, mais tarde, originado o Homo sapiens, que parte do continente há cerca de 100 mil anos."
Muitos pesquisadores acreditam que o convívio entre o homem moderno e o de Neanderthal tenha sido um dos fatores para a extinção desses últimos, que não teriam conseguido "competir" com a nova espécie.
A cara do antecessor
As escavações foram feitas em um sítio arqueológico à beira de uma estrada de ferro na serra de Atapuerca, na Espanha. "Encontramos os fósseis a cerca de seis metros de profundidade."
As datações foram feitas por meio de uma técnica chamada paleomagnetismo.
"No nível em que foram encontrados os ossos verificamos uma inversão de campo magnético que aconteceu na Terra há cerca de 780 mil a 800 mil anos."
O Homo antecessor tinha uma face menos protuberante que a do Homo erectus e mostra uma feição facial que até agora só havia sido encontrada 650 mil anos depois. Entretanto outros ossos do crânio e da dentição mostram semelhanças com os hominídeos mais antigos. "Encontramos 86 pedaços de ossos, que pertencem a pelo menos seis indivíduos: duas crianças, dois adolescentes e dois adultos jovens. A análise mais detalhada resulta num indivíduo com características pré-sapiens e neandertal ", disse ele à Folha.
Segundo o pesquisador, "foram encontradas ferramentas de pedra associadas aos fósseis e também micromamíferos".
"A análise das ferramentas mostra que possivelmente o Homo antecessor era caçador-coletor, isto é, se alimentava de frutos e raízes que coletava e de animais que caçava. Também acreditamos que vivia em pequenos bandos e possivelmente era canibal."

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