São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997
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Descoberta pode alterar teorias

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Donald Johanson, fundador do Instituto da Origem Humana, em Berkeley, na Califórnia, e um dos mais importantes antropólogos norte-americanos, acha que a descoberta levanta novas questões e pode até mudar a teoria da chegada do homem à Europa.
Mas, em entrevista à Folha, por telefone, o descobridor de "Lucy", fóssil de uma fêmea de australopiteco (Australopithecus afarensis) na Etiópia, que teria vivido há 3,2 milhões de anos, pede calma nas investigações e diz que precisa de mais evidências para concluir se se trata ou não de uma nova espécie.
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Folha - A descoberta do fóssil de um menino em Atapuerca, que teria vivido há cerca de 800 mil anos na Espanha, é, como dizem os pesquisadores espanhóis, uma nova espécie de ancestral do homem?
Donald Johanson - Os pesquisadores dizem que o menino apresenta traços do homem moderno. De fato, não conhecemos hominídeos com um rosto com tais características que tenha vivido há mais de 200 mil anos.
Acreditamos, também, que o homem de Heidelberg esteve na Europa há 500 mil anos, o de Neanderthal, há 200 mil, e o Homo sapiens, há 40 mil.
A pergunta que surge agora é se não teremos tido um primo ainda mais antigo que teria sido descoberto na Espanha. Foi, sem dúvida, uma descoberta interessantíssima, mas, em ciência, não podemos nos precipitar.
O problema é comparar o fóssil de uma criança com o de um adulto. Isto dificulta as análises e pode não ser suficiente para comprovarmos a existência de uma nova espécie. Temos de ir com calma.
Folha - Que teoria a descoberta deve alterar?
Johanson - Pode mudar muita coisa, até mesmo, claro, a data da chegada dos ancestrais humanos na Europa.
Se forem fósseis do homem de Heidelberg, ele teria existido na Europa 280 mil anos antes do que pensávamos.
Folha - O sr. pretende estudar o caso?
Johanson - Estou disposto a ajudar, claro, a estudar conexões com os ancestrais africanos.
A partir de julho, irei com meu staff me juntar à Universidade Estadual do Arizona. Vou lecionar antropologia, mas continuarei, hoje e sempre, meus estudos sobre o passado da humanidade.

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