São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997
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ALAGOAS EM CRISE

Alagoas vem apresentando nos últimos anos uma amostra concentrada dos piores vícios políticos e sociais brasileiros. Foi base de lançamento e de operações da aventura Collor. Assassinatos frequentes colocam sua vida política no noticiário policial. E, desde o ano passado, o Estado vive ainda sob a ameaça de intervenção federal. Falido, não tem como pagar dívidas e fazer os repasses obrigatórios dos recursos que recebe. O que havia de serviço público vem sendo desmontado.
No que diz respeito às contas públicas, seria incorreto citar apenas esse Estado nordestino como exemplo. A conta da farra financeira do desenvolvido Estado de São Paulo -mais de R$ 50 bilhões- foi em parte empurrada para o governo federal. Deverá ser paga com os impostos de todos os brasileiros e, pior, parece obra do além, pois não há sinal de que os autores do rombo serão responsabilizados.
No entanto, se não rivaliza com São Paulo no tamanho do esbulho, Alagoas apresenta um sistema de produção de iniquidades enraizado -e aparentemente imutável- na própria estrutura da sociedade local. O Estado é refém do mandonismo de origem coronelista, agrega uma parcela da população pelo clientelismo e relega a maioria à exclusão social.
Dois pontos da crise atual ilustram o arcaísmo das relações políticas e sociais do Estado: Alagoas não tem como honrar títulos que emitiu -ilegalmente- para pagar empreiteiros e usineiros. A estes, a elite local, o Estado devia a devolução dos parcos impostos recolhidos, isenção presenteada por Collor. A folha salarial da máquina pública inchada chega a levar 90% dos recursos.
Mesmo sob intervenção branca da União, Alagoas não cumpriu os acordos de saneamento financeiro, sob a promessa dos quais recebeu empréstimos paliativos. O governo federal ameaça negar nova ajuda financeira ao Estado, mas não se decide por uma atitude mais firme: uma intervenção de fato. Os acordos de federalização de dívidas já são polêmicos por, de certa forma, corroborar erros passados e abrir caminho para mais uma rodada de irresponsabilidade. Tolerar, porém, o expresso descumprimento de metas acertadas em nome da saúde das contas públicas do país é leniência culposa.

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