São Paulo, sábado, 31 de maio de 1997
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"PUEBLADAS" ARGENTINAS

Os protestos de desempregados que vêm ocorrendo na Argentina colocam em evidência um dilema que o Brasil também enfrenta, ainda que em doses menores. Bem-sucedidos no controle da inflação, os planos baseados na valorização cambial limitam o crescimento da economia e a oferta de emprego.
Esses constrangimentos de política econômica sobrepõem-se aos fenômenos mais globais do avanço tecnológico e dos necessários ajustes no setor público. Ambos têm impacto sobre o emprego. No caso da Argentina, a redução do Estado e a privatização de estatais tiveram duros efeitos colaterais em certas regiões, onde o desemprego chegou a 37%. O nível de emprego vinha diminuindo lentamente desde o plano que fixou o peso em um dólar, em abril de 91.
Nos três primeiros anos, o boom propiciado pela estabilização contrabalançava em parte a perda de postos de trabalho devida ao crescimento das importações. Mas, a partir de 94, essa taxa saltou de patamar e não regrediu. De cerca de 6% em 91, chegou a 17% no final do ano passado. Os números não incluem subempregados nem temporários.
É uma situação muito mais grave que a do Brasil. E deve-se constatar que a política cambial brasileira não tem a rigidez da argentina. Ainda assim, mesmo com uma margem de manobra muito maior, a encruzilhada é similar. As recentes medidas de contenção do crédito mostram isso.
Não se tratava de conter um excesso de consumo, que não existe, nem de controlar a inflação, que está em baixa. Pôs-se um freio na economia para conter o déficit comercial. O desemprego continua a ser um subproduto, certamente indesejável, mas ainda sem solução.

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