São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Teixeira devolve acusação a ex-secretário

DA REDAÇÃO

O advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula, devolve as acusações de corrupção que tem recebido de Paulo de Tarso Venceslau.
"Ele está fazendo as denúncias por convicção? Não, porque ele assinou um contrato idêntico. Do que ele tem vivido? Para quem ele tem trabalhado?", questiona Teixeira, referindo-se a Venceslau.
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Folha - Que motivo teria o Paulo de Tarso para fazer essa acusação?
Roberto Teixeira - O denunciante fala da falta de licitações. Eu perguntaria: Será que é uma questão de princípio para ele? Ele não teria contratado outra firma para São José dos Campos e Campinas com dispensa de licitação e com contrato idêntico? Procurem saber a respeito de uma firma chamada H Matos. Vocês vão encontrar uma assinatura dele lá.
Ele está fazendo as denúncias por convicção? Não, porque ele assinou um contrato idêntico. Do que ele tem vivido? Para quem ele tem trabalhado? Ou ele parou no tempo desde 93?
Quer saber outra coisa? A Cpem trabalhou para o município de São Paulo na sequência. E no processo você vai encontrar um parecer de um ex-desembargador, respeitado, que conclui pela dispensa de licitação. Perguntem o nome desse desembargador. Régis Fernandes, vice-prefeito de São Paulo.
Folha - Qual é a conclusão?
Teixeira - Não seria o caso de se verificar todas as demais prefeituras? Por que o Ministério Público não investiga os outros municípios? Porque há uma perseguição em cima das prefeituras petistas.
Só hoje, na Folha, pela primeira vez, foram levantadas questões sobre Guarulhos, Suzano e outras prefeituras. Uma coisa é vocês da imprensa criticarem o PT. Mas, se é algo a respeito de princípios, deve-se verificar as outras cidades.
Em Indaiatuba, o Ministério Público recebeu denúncia e o promotor de lá decidiu que não era caso de fazer denúncia. O conselho superior do Ministério Público acolheu o parecer e disse que era caso de arquivamento -significa que ele entende que não é o caso de ingresso de ação civil. Aí você encontra três promotores que decidem entrar com ação, justamente nas prefeituras do PT. Eu gostaria que a imprensa respondesse.
Folha - Como foi a discussão a respeito das denúncias do Paulo de Tarso feitas em 1993?
Teixeira - Em dado momento, eu recebo um telefonema do Paulo Okamoto (ex-presidente do PT paulista) dizendo que o Paulo de Tarso estava fazendo denúncias contra essa empresa Cpem, que estava praticando fraudes.
E ele foi dizer ao Lula que a empresa era minha. O Lula levou um susto e disse ao Okamoto que conversasse comigo. Marcou-se no meu escritório. Ele mostrou uma série de documentos que, segundo ele, eram prova da inidoneidade da Cpem. Meu irmão veio ao escritório, expus o assunto, meu irmão marcou nova data para dar tempo de examinar os documentos.
Na nova reunião, meu irmão respondeu tecnicamente e disse que era tudo absurdo. E eu tive de repetir: "Não sou dono daquela firma". Cada um se entrincheirou juridicamente em suas posições e estão disputando na Justiça.
Folha - O sr. acha que a denúncia abalou a credibilidade do Lula?
Teixeira - Não. Todos que o conhecem sabem que ele seria incapaz de qualquer ato que de longe cheirasse menos honesto. Nos ossos, nas veias, em tudo ele é justo.
Não há nenhuma substância. Só suspeitas, suspeitas, suspeitas... Onde está a acusação de corrupção? Estão fazendo um fogo de encontro para poder contrapor com essas últimas denúncias que estão aí (feitas pela Folha sobre a compra de votos para aprovação da reeleição). O PT sempre será vítima disso. O PT é como uma virgem posta num prostíbulo. O que as pessoas querem é prostituí-lo.
Folha - O sr. se arrepende de ter sugerido um encontro com as prefeituras do PT?
Teixeira - Olha, se alguém me disser que a Peugeot quer se instalar numa prefeitura, eu vou e digo: "Tal firma tá querendo se instalar, veja o que você pode fazer". Não tem por que se arrepender. Mas é bom que se diga: Eu nunca intermediei, negociei. Negociar é quando você busca vantagem. Isso nunca existiu.
Folha - A denúncia diz que a Cpem desviou parte de seu lucro para a caravana do Lula. É verdade? O sr. já tirou dinheiro de seu patrimônio para dar para o PT?
Teixeira - Eu colaboro bastante com o PT. Sabe como? Com o meu trabalho. A despeito de eu ter um bom patrimônio, aprendi com meu pai que a única forma de se aplicar dinheiro é com imóvel. Então eu não tenho dinheiro sobrando para dar para o partido.
Folha - Dizem que o sr. é o tesoureiro das campanhas do Lula.
Teixeira - Desafio alguém que me traga um único empresário que diga "pus esse dinheiro na mão do Teixeira para a campanha do PT".
Folha - O sr. não financiou a caravana do Lula?
Teixeira - Se não fosse me fazer falta, até que eu daria algum.
Folha - O sr. acha que o PT fez certo ao abrir uma comissão para apurar as denúncias?
Teixeira - Eu acho válido. Principalmente porque foram postos dois juristas, que têm capacidade de entender essas tecnicidades.
Folha - O sr. se considera rico?
Teixeira - O meu patrimônio começou a se formar bem antes do PT. Tenho um razoável patrimônio. Não me considero rico nem pobre. Sou médio, classe média.
Folha - Classe média alta?
Teixeira - Classe média média.
Folha -O sr. foi surpreendido por esse episódio?
Teixeira - Sim. Eu pensei que já tivesse visto um pouco de tudo. Agora eu começo a pensar a que ponto a canalhice humana chega. Não tem parâmetros.

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