São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Denunciante atuou em ações históricas da esquerda armada

Caso Marighella e sequestro de embaixador marcaram Venceslau

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de se tornar conhecido com a denúncia que abala o PT, o economista Paulo de Tarso Venceslau, 53, já tinha uma longa trajetória de polêmica na esquerda.
Militante da ALN (Ação Libertadora Nacional), Venceslau foi o responsável pela área de segurança do congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em 68, em Ibiúna (SP). Os participantes foram presos.
O ano seguinte, no entanto, reservaria espaço para o episódio mais marcante da militância de Venceslau. Um dos coordenadores da ALN em São Paulo, ele era o encarregado do contato da organização clandestina com os dominicanos.
Sob tortura, religiosos da ordem "entregaram" um "ponto" (encontro) que Carlos Marighella, o líder da ALN, teria na alameda Casa Branca, em São Paulo.
Marighella foi morto pela polícia política e Venceslau carregou nos ombros durante anos a suspeita, nunca comprovada, de negligência ou delação.
Na prisão, Venceslau teve entreveros verbais fortíssimos com membros da ALN inconformados com a morte de Marighella. "Tive muitas discussões na cadeia, mas desafio qualquer um a provar que entreguei alguém", diz Venceslau.
A "quarentena" de desconfiança custou a Venceslau a não-inclusão de seu nome na lista dos presos políticos que, pouco depois, foram trocados pela vida do embaixador alemão, sequestrado por organização clandestina.
O veto, dizem contemporâneos de Venceslau na prisão, reforçou a expressão séria e triste que o marcava desde a universidade.
Pouco antes da prisão, Venceslau foi também participante de um dos mais espetaculares feitos da esquerda armada brasileira. Escalado pela ALN, foi de São Paulo para o Rio a fim de participar do sequestro do embaixador norte-americano no país, Charles Burke Elbrick.
Na ação, coube a Venceslau entrar na limusine de Elbrick e, depois, participar da soltura do sequestrado.
Duro e inflexível nas discussões fratricidas da esquerda, Venceslau foi abrigado por Sérgio Motta logo que saiu da prisão, em 75, na empresa Hidrobrasileira, do hoje ministro. No mesmo ano, completou o curso de economia na Universidade de São Paulo.
PT
No PT, Venceslau enfrentou, no início, a desconfiança de que continuava atuando como membro da ALN no partido. Ocorreu quando trabalhava no gabinete do então deputado estadual paulista Anísio Batista.
Curiosamente, foi José Dirceu -hoje seu desafeto- o patrocinador da ida de Venceslau para a Secretaria de Finanças da prefeitura petista de São José dos Campos.
Hoje, o economista ensaia a aproximação com o PSDB. "A chamada esquerda agora tem posições conservadoras e não entende as mudanças no mundo", diz Venceslau.

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