São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Beneficiários venderam licença gratuita

DA SUCURSAL DO RIO

O deputado José Abreu (PSDB-SP) e o mineiro Luiz Mário Pádua -que ficou famoso no governo Collor por um rumor de que teria mantido um relacionamento amoroso com a ex-primeira-dama Rosane Collor- foram alguns dos aquinhoados com licenças gratuitas de "trunking" durante o governo Itamar Franco.
Documentos da Junta Comercial de São Paulo ligam o nome do deputado a quatro empresas de "trunking" da capital paulista, adquiridas em 1993 pelo indiano Raj Singh e que hoje pertencem à McCaw: Car-tel, Telecar, Teleservice e Telemóvel. As quatro possuem um total de 80 canais.
Paulo Abreu, irmão do deputado, tem uma empresa de "trunking" em operação em São Paulo, Superchip, que funciona com apenas cinco canais.
Interesse nos EUA
O deputado disse à Folha que se interessou pela atividade do "trunking" depois de ter conhecido o serviço nos Estados Unidos.
Ele contou que soube das experiências com o "trunking" digital durante viagem a Los Angeles, o que aumentou seu interesse pelas licenças: "Naquela época, era só pedir a licença que o ministério dava", lembra o deputado tucano.
Abreu afirmou que explorou o serviço por apenas sete ou oito meses e que desistiu do negócio porque os preços despencaram pouco depois de ele ter entrado no mercado.
Como vários outros que venderam suas licenças, Abreu foi convidado a visitar a empresa de Rajendra (Raj) Singh em Washington, para quem vendeu suas operações. Nos EUA, conheceu também Karen Muller, a advogada que hoje mora em Brasília.
Uma das empresas citadas pelo deputado, a Comercial Telecar, foi registrada na Junta Comercial em nome de Rene Xavier dos Santos e de Ricardo Hellmeister.
Hellmeister (que tem um posto de gasolina em construção no bairro de Moema, SP) mandou dizer que ignorava o destino da empresa.
"Ele disse que só emprestou o nome para a empresa, que foi um testa-de-ferro, um laranja, entende?", afirmou um engenheiro da obra que se identificou apenas como Keyler.
O mineiro Luiz Mário Pádua registrou uma empresa em Belo Horizonte chamada LMP Participações, com o endereço de seus pais. Ele ganhou licenças de "trunking" em 11 cidades, entre elas, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.
Ex-assessor de José Aparecido, então governador de Brasília, Luiz Mário tinha fácil acesso ao ex-ministro das Comunicações, Djalma Morais, um amigo pessoal de Aparecido.
Festival de concessões
Resultado: em setembro de 94, conseguiu as licenças de "trunking" e, na última semana do governo, foi aquinhoado com licenças gratuitas para o serviço de "paging" em 34 cidades e para testar uma novíssima tecnologia de transmissão de sinais de TV e dados chamada LMDS.
As últimas concessões foram revogadas, a pedido de Luiz Mário, depois que a Folha noticiou o festival de 349 concessões aprovadas nos últimos cinco dias do governo Itamar.
As licenças de "trunking", no entanto, continuaram em seu poder. Segundo relatório da McCaw, em maio do ano passado a Wireless Ventures of Brazil comprou 49% das ações da LMP.
O contrato, intermediado por Karen Muller, previa opção de compra dos outros 51% quando o governo autorizasse a transferência do controle. O negócio envolveu US$ 900 mil.

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