São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Cingapura usa Justiça para silenciar membros da oposição

The Independent
de Londres

RICHARD LLOYD PARRY
EM CINGAPURA

"Muitas pessoas não entendem essas coisas", disse Tang Liang-Hong. "Mas eu conheço o joguinho deles. Eles usam a polícia, a lei de difamação e o processo legal. Afirmam ter caráter e autoridade moral -mas que tipo de moralidade é essa?"
O Sudeste Asiático ainda tem sua parcela de vilões, e palavras como essas poderiam ser usadas pelos críticos de qualquer um entre um punhado de regimes regionais. Mas Tang, 61, cingapuriano de origem chinesa, não está falando de Myanma ou da Indonésia. Os alvos de seu ataque são alguns dos governantes mais respeitados da Ásia: os dirigentes de Cingapura e seu timoneiro das últimas três décadas, Lee Kuan Yew.
As razões imediatas da ira de Tang são simples. Em março passado, foi processado por difamação por altos representantes do Partido de Ação Popular (PAP) de Cingapura, depois de chamá-los de mentirosos durante a campanha eleitoral de dezembro.
Na quinta, um juiz concedeu ganho de causa a 11 querelantes, incluindo ministros, dois vice-ministros, o premiê e o próprio Lee, aos quais Tang terá que pagar 8 milhões de dólares cingapurianos (US$ 6 milhões) a título de danos.
À primeira vista, as palavras de Tang soam como as queixas de um derrotado. Mas seus defensores apontam um relatório divulgado no início do ano pelos EUA que referiu-se às "tentativas do governo de intimidar a oposição por meio da ameaça de processos por difamação e calúnia".
Cingapura, teoricamente uma democracia multipartidária, vem funcionando como regime unipartidário durante boa parte de seus 32 anos de vida independente.
Antes das eleições, Tang havia criticado o domínio da língua inglesa no Estado, um dos fatores da coerção social em um país que abriga diferentes etnias.
Durante a campanha, o premiê Goh Chok Tong, cotado para suceder Lee, chamou Tang de "chauvinista chinês" por suas "posturas radicais". Tang afirmou que ele mentia -desencadeando a fúria legal de seus adversários.
Após fugir de Cingapura, os bens de sua esposa foram congelados, e seu passaporte, confiscado. Uma semana atrás, ele foi indiciado por 33 acusações de sonegação de impostos, cada uma das quais potencialmente punível com três anos de prisão.

Tradução de Clara Allain

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