São Paulo, domingo, 1 de junho de 1997
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Programas com sorteios registram 700 mil chamadas por semana

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

R$ 444 é o mínimo que o telespectador compulsivo gastaria por mês de conta telefônica se cedesse aos apelos de todos os programas que promovem sorteios de prêmios pelo "disque 0900".
Em rede aberta, o telespectador é bombardeado pela mensagem "ligue já" em pelo menos 15 programas. Levando-se em conta que alguns são diários, o espectador tem 37 opções por semana para participar de sorteios, gastando R$ 3 por ligação.
Com prêmios que variam de liquidificadores a carros importados, esses programas registram pelo menos 700 mil chamadas por semana -multiplicando-se o total de opções semanais pela média de ligações atingidas pelos programas, cerca de 20 mil.
"Geralmente, o número de ligações oscila entre 2.000 e 50 mil, dependendo da audiência", afirma Amilcare Dallevo, 39, presidente da TeleTV, a empresa de telefonia de massa responsável pelo gerenciamento dos sorteios nos programas "Hebe", "Perfil", "Raul Gil", "Sula Miranda Show" e "190 Urgente".
Alguns programas, como o "Domingo Legal", do SBT, conseguem extrapolar a estimativa. No último domingo, o sorteio de três carros Fiat ou um Alfa Romeo Spider (a critério do ganhador) registrou 400 mil ligações. "O prêmio é uma atração a mais", diz a assessora de Gugu Liberato, Ester Rocha.
Até a Globo vai aderir ao "boom" dos sorteios pelo "disque 0900" em agosto. Segundo Aloysio Legey, diretor do núcleo de promoções e eventos, Angélica foi escolhida para apresentar um quadro de sorteios de carros e apartamentos a ser exibido durante os intervalos. "A promoção deve durar um mês."
A maioria dos programas que incita o público a discar o 0900 adota a mesma fórmula. Os apresentadores anunciam o prêmio no início e no fim de cada bloco, sempre com frases como "vale a pena arriscar" ou "participe você também". A câmera se encarrega do close no produto.
O que muda de um programa para outro é a ênfase. No "Raul Gil", da Manchete, por exemplo, o apresentador não se cansa de dizer que o Fiat Coupé a ser sorteado é "lindo". A campanha ainda é reforçada com os créditos que mostram os números de telefone no vídeo pelo menos três vezes por bloco.
Claudete Troiano, apresentadora do "Pra Você", da CNT/Gazeta, faz uma única chamada por bloco e só capricha no "ligue já" no final. "Na hora do sorteio, a audiência pula de um para dois pontos (cerca de 160 mil telespectadores na Grande São Paulo)", diz Carlos Carreras, 28, diretor do programa.
A Folha apurou que cerca de 50% da arrecadação desses sorteios fica para a Embratel e as telerregionais. As emissoras recebem pela locação do espaço, enquanto o apresentador ganha cachê ou uma porcentagem do total, dependendo do contrato.
Filantropia
Por determinação do Ministério da Justiça (portaria 413/97), os sorteios beneficiam entidades filantrópicas reconhecidas em âmbito federal. No caso do "Telesorte" e do "Disksport", da Bandeirantes, os programas são administrados pela Loterj -sendo que parte da receita é destinada à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBAA), com base na Lei Zico.
Todos os sorteios devem ser fiscalizados por um auditor independente. Até nos programas gravados, os sorteios são realizados ao vivo. Nesse momento, o técnico da emissora corta para a tela do terminal de computador que mostra os números finais do telefone sorteado.
No caso do "Perfil", que vai ao ar durante a madrugada, o sorteio é pré-gravado. "Mas quem ligar depois concorre automaticamente no da próxima semana", diz o produtor-executivo William Rocca, 23.
José Luiz Nascimento, coordenador do "Telesorte" e do "Disksport", da Bandeirantes, garante que se o telespectador ligar para os programas segundos após a realização do sorteio "o sistema de atendimento não registra a chamada".

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