São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Denúncias abortam a campanha de Lula

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

As denúncias do economista Paulo de Tarso Venceslau, mesmo se não comprovadas, praticamente implodiram a possível candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República no próximo ano.
Embora ainda não tornem pública a avaliação, as principais figuras do PT encerraram a semana lamentando que, justamente no momento em que Lula começava a "empinar" a candidatura, o petardo de Venceslau tenha estilhaçado o plano.
Lula estava trocando a indecisão pela simpatia à candidatura. Apostava que, com o desgaste provocado pela denúncia de compra de votos de deputados para aprovação da emenda da reeleição, o presidente Fernando Henrique Cardoso estava deixando de se tornar um candidato imbatível.
Em reuniões recentes de petistas, Lula chegou a dizer que Tarso Genro, o ex-prefeito de Porto Alegre que é a outra alternativa partidária para 98, estava "muito apressado" quando exigia uma definição até agosto sobre quem concorreria pelo PT à Presidência.
Frente
O raciocínio de Lula era o seguinte: FHC sairia arranhado do episódio, e, assim, seria possível ganhar tempo para formar uma frente de centro-esquerda com alguma chance de enfrentar o "projeto neoliberal".
A frente sempre foi considerada quase impossível por José Dirceu, presidente do PT.
Dirceu não chegava a se entusiasmar com a candidatura de Tarso Genro, mas temia perder peso na condução da campanha se, eventualmente, vingasse a proposta de Lula de ampliar o máximo possível as alianças para 98.
Dirceu, como a maioria da cúpula petista antes do escândalo da compra de votos, tendia a apostar em uma campanha para "marcar posição" capitaneada pelo ex-prefeito de Porto Alegre e tentar ganhar governos estaduais importantes, como os de Minas Gerais (com a candidatura de Patrus Ananias) e do Rio Grande do Sul (com a de Olivio Dutra).
Pressão
O caso da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição havia mudado o clima petista.
Além da visível disposição de Lula de admitir a hipótese de discutir a sério a candidatura, setores que temiam a "oxigenação" da legenda com o partido representado por Tarso Genro na eleição passaram a pressionar mais diretamente pelo sim de Lula.
A inédita reprimenda pública de Lula à determinação de Dirceu de abrir uma comissão interna de sindicância para averiguar as denúncias de Venceslau não foi fortuita.
O círculo mais próximo de Lula acha que Dirceu na prática teria fechado a porta à candidatura do líder petista ao admitir que o PT errara ao não apurar antes a denúncia de Venceslau.
A denúncia atinge politicamente Lula no mínimo por suposto tráfico de influência em favor do amigo Roberto Teixeira.
Segundo Venceslau, o advogado Teixeira pressionaria prefeituras administradas pelo PT a assinarem contratos irregulares com a empresa Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios).
Parte do lucro da empresa, ainda de acordo com a denúncia, seria desviado para financiar as atividades do partido.
Lula acredita, de fato, que não cometeu nenhum erro no caso. Por isso, acha que as denúncias de Venceslau deveriam ter sido ignoradas pela direção do partido.
Dirceu, porém, pressionado pela opinião pública, colidiu com o chefe e decidiu apurar o caso.
Aposentadoria
Na última sexta-feira, o PT listava várias dificuldades que Lula enfrentaria se decidisse entrar pela terceira vez em uma disputa presidencial.
O principal entrave, na hipótese de superação sem sequelas da crise de plantão, seria explicar ao eleitorado sua aposentadoria especial como perseguido político.
O tema da aposentadoria especial de Lula sempre constrangeu o petismo, que não faz crítica pública ao fato de seu líder ter requerido o benefício, mas sabe que numa campanha eleitoral o episódio seria utilizado pelos adversários contra uma candidatura que já enfrenta uma carga nada desprezível de rejeição.
Na derrota para Fernando Henrique Cardoso em 94, Lula não carregou os casos Venceslau e aposentadoria especial.
Tampouco bateu de frente com um presidente exercendo o cargo, com os benefícios óbvios que a caneta presidencial representa.
Por isso, Genro é hoje a aposta mais segura sobre candidatura à Presidência em 98 pelo PT.

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