São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Ex-faxineiro estuda vira procurador

Ele estudava de dia e trabalhava à noite

DA SUCURSAL DO RIO

Joaquim Barbosa, 42, tem hoje um dos cargos mais cobiçados da carreira jurídica: o de procurador da República junto ao Tribunal Regional Federal no Rio.
Barbosa está entre os 1,7% dos negros que, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano no Brasil, chegam a uma universidade. Fez mais: tem um doutorado em direito público na Universidade de Paris 2 e uma tese publicada em francês sobre o Supremo Tribunal Federal.
"Não me acho uma exceção, mas fruto do acaso. Tive a sorte de iniciar a vida profissional na época do chamado milagre econômico, quando havia oferta de empregos maior", afirma.
Filho mais velho de uma família pobre de Paracatu (MG), Barbosa começou a trabalhar aos 13 anos. Aluno da escola pública, mudou-se sozinho para Brasília para cursar o 2º Grau. Trabalhava como faxineiro.
Passou no vestibular de direito e, para cursar a faculdade durante o dia, trabalhava à noite em gráficas e jornais, até fazer concurso para a gráfica do Senado.
O concurso seguinte foi para oficial de chancelaria no Itamaraty, e depois, para diplomata. Foi reprovado na entrevista.
"Até hoje não esqueço o constrangimento do diplomata para me reprovar, porque não havia razão justificável. Ali eu soube que jamais aceitariam um negro diplomata", conta.
Há quatro anos, foi primeiro colocado entre seis nomes numa eleição nacional para preencher uma vaga de desembargador. Não ficou nem na lista tríplice que passou à escolha final.
Barbosa diz que até hoje percebe a estranheza das pessoas em relação a seu currículo. Às vezes, ao chegar a restaurantes, é confundido com o manobrista.

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