São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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A grama do vizinho

A grama do vizinho
CELSO LODUCCA
Dizem que

CELSO LODUCCA

Dizem que a grama do vizinho é sempre mais verde. Entendo isso como uma certa cobiça pelo que os outros conseguem em um descaso por aquilo que você mesmo está fazendo.
Uma dificuldade em valorizar seu próprio trabalho. Pode-se interpretar também como um espírito crítico mais exacerbado quando se trata de julgarmos a nós mesmos do que quando o objeto é o outro.
Quando verdadeiro (ou se verdadeiro) este sentimento pode desembocar em dois outros sentimentos e suas respectivas atitudes.
Um deles é procurar melhorar seu gramado, aperfeiçoar suas técnicas até que você sinta que está tão bom ou melhor que o gramado do vizinho.
O outro, mais comum, nesta nossa época pós-moderna, pós-humana, é transformar essa, vamos dizer, admiração ou inveja e então tentar diminuir o verde do vizinho para ver se a própria grama passa a parecer mais brilhante.
Começa aí uma guerra de conceitos subjetivos onde se tenta criar (ou inventar) imagens de excelência em detrimento da imagem dos outros. Alguns (talvez sejam muitos) encaram como "isto é guerra, meu bem, vale tudo".
Realmente é uma tática eficiente por algum tempo. Só que a maioria dos "generais" acaba acreditando na própria mentira, se embevece com seu truque e perde a noção do que realmente acontece, de como estão seus exércitos. E passa a agir de acordo com a imagem que criaram deles e de seu jardim, perdendo a capacidade de comparar, analisar e agir de acordo com a realidade.
Acabam sendo derrotados não só pela competência dos adversários mas, principalmente, pela sua incompetência em ver as coisas como elas são.
Um tipo de miopia muito comum mas de difícil cura, já que o míope não se acha doente, pelo contrário, pensa enxergar melhor do que todos os outros seres humanos não tão iluminados.
Em propaganda não é diferente, já que é feita, óbvio, por pessoas do mesmo barro. Talvez os sintomas sejam até um pouco mais acentuados, travestidos de competitividade.
Pena que essas práticas predatórias têm destruído o pouco de dignidade da profissão e, o que é pior, do negócio. Do jeito que a coisa anda é bem provável que sobre pouco jardim para cuidar e até mesmo para invejar.

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