São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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"AMEAÇA ISLÂMICA"

O súbito interesse que o Ocidente tomou por questões islâmicas transcende a um fenômeno jornalístico pós-Guerra Fria ou a uma curiosidade genuinamente etnográfica. O chamado mundo árabe está em evidência desde as intervenções do líder egípcio Gamal Abdel Nasser na política mundial dos anos 50, assumiu importância vital no choque do petróleo de 1973 e ganhou uma imagem mais funesta com a intensificação do terrorismo palestino. Mas a "ameaça islâmica" se corporificou, pelo menos segundo a propaganda ocidental, a partir de 1979; a revolução de Khomeini no Irã, um país persa, ajudou a estender, porém, a aura de turbantes e barbas sinistros do mundo árabe, que Saddam Hussein estigmatizou de vez.
Com o fim definitivo da "ameaça comunista", em 1989, os muçulmanos -países, extremistas, imigrantes ou mesmo toda a sua cultura- foram pintados como o inimigo da vez dos valores ocidentais, como ressalta o livro "O Choque de Civilizações e a Reorganização da Ordem Mundial", de Samuel Huntington, professor de história em Harvard.
Tanto as histórias de embate como de paz produtiva entre as culturas ocidental e muçulmana remontam à própria fundação do Islã, no século 7º. A recente satanização de uma civilização que já foi diversas vezes considerada uma das mais tolerantes do mundo inscreve-se em parte no contexto da necessidade de distinguir um inimigo externo e de manter todo um complexo industrial bélico de alto valor agregado.
A economia, particularmente em sua fase de intensa mundialização, porém, cada vez mais passa por cima de valores políticos ou religiosos; é assim que se pode procurar entender episódios como a vitória do moderado Mohammad Khatami no Irã.

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