São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Governo na moita

RUI NOGUEIRA

Brasília - O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso tem uma penumbra malvada. É incapaz de definir como gastar muito e bem na área social. O caminho obscuro dessa perversidade tem o seguinte roteiro:
1) FHC está certo ao combater o proselitismo sindical, que mistura a defesa das empresas estatais com a defesa da manutenção do status quo de milhares de funcionários caros e improdutivos. Um choque de ação privada vai mostrar que até mesmo as estatais que posam de eficientes poderão ser mais eficientes ainda.
2) FHC está absolutamente errado ao não dizer claramente qual é, afinal de contas, a porção pública que o seu governo quer manter e em que áreas ela é imprescindível.
Essa definição continua na moita e produz situações como a da Fiocruz (Fundação Instituto Oswaldo Cruz). Acompanhe: em dezembro do ano passado, a Fiocruz teve retirados do seu orçamento R$ 30 milhões para pagar a conta dos hospitais. Ainda não havia a CPMF, mas o ministério prometeu que logo devolveria o dinheiro.
Em fevereiro deste ano, do orçamento de R$ 130 milhões foram contingenciados R$ 12 milhões. Contingenciar é um eufemismo para esconder o óbvio: o governo não entrega o dinheiro. Somando os R$ 30 milhões, que não foram devolvidos até hoje, aos R$ 12 milhões que o governo resolveu poupar à custa da saúde, dá um buraco de R$ 42 milhões.
Assim, num país de tantos órfãos, FHC acaba de produzir um novo tipo de orfandade, a dos remédios. Primaquina, cloroquina e dietilcarbamazina são medicamentos usados para combater a malária e a filariose.
Sem dinheiro, a Fiocruz tem cada vez mais dificuldade para manter a fabricação desses produtos, que já ganharam a denominação de "remédios órfãos". Só a Fiocruz os produz porque nenhum laboratório privado quer se meter na fabricação de algo caro para consumidores potenciais de baixa renda.
A Fiocruz tem alguma importância pública para o ano da saúde ou também pode ser privatizada? Está na hora de sair da penumbra e dar as caras.

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