São Paulo, segunda-feira, 2 de junho de 1997
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Holocausto econômico

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Depois da exploração do homem pelo homem em nome do capital, o neoliberalismo e seu braço operacional, que é a globalização, criaram, mantêm e ampliam, em nome da sacralidade do mercado, a exclusão de grande parte do gênero humano.
O próximo passo será a eliminação? Caminhamos para um holocausto universal, quando a economia modernizada terá repugnância em custear a sobrevivência de quatro quintos da população mundial? Depois de explorados e excluídos, bilhões de seres humanos, considerados supérfluos, devem ser exterminados?
O raciocínio é um desdobramento lógico do horror econômico fabricado no laboratório dos economistas neste final de século.
A massa de excluídos constituirá um formidável dinossauro que a economia eliminará como inviável no Estado neoliberal. Não se trata de um apocalipse, mas de um novo eixo da história. Só os economicamente arianos deverão sobreviver. Os não-arianos formarão o gueto -e como a manutenção de um gueto é um paradoxo econômico (para que produzir para quem não pode produzir?) a solução a médio ou longo prazo será o extermínio em massa. Menos custo e mais benefício para os balanços de governos e empresas.
Viviane Forrester, autora de um livro sobre Van Gogh (um excluído que nunca vendeu um quadro), analisa com lucidez a decomposição dos valores sociais que se tornaram a besta-negra dos guarda-livros que se investiram na função de sumos sacerdotes, somente eles capazes de penetrar no Santo dos Santos do templo globalizado.
O "Horror Econômico" denuncia o jargão e as siglas que estão fabricando o abominável mundo novo em gestação. Seu livro é um momento da consciência humana (texto que me foi solicitado pela Unesp para servir de orelha à edição brasileira que acaba de sair).

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