São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997 |
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Autoritarismo e firmeza são 'predicados' de deputado
GABRIELA WOLTHERS
Mas o que os governistas definem como "firmeza", a oposição qualifica como "autoritarismo". Nos dois anos como presidente da Câmara (fevereiro de 95 a fevereiro de 97), Luís Eduardo chegou a dissolver comissões, atrasar votações e interpretar o Regimento Interno da Câmara sempre com o objetivo de acumular vitórias para o governo. Desde a época do regime militar, a Câmara, com raríssimas exceções -como o caso de Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) no governo Collor (1990-1992)-, é comandada por deputados afinados com o governo federal. Mas Luís Eduardo marcou sua gestão não apenas por "ajudar" o presidente Fernando Henrique Cardoso. Na maioria das vezes, ele foi um dos principais líderes das articulações políticas. O caso mais clássico foi na batalha pela aprovação da emenda da reeleição. Luís Eduardo montou um "bunker" na residência oficial da presidência da Câmara, onde toda a semana eram contabilizados os votos pró-governo. O deputado baiano adiou a votação em primeiro turno da emenda até ter certeza absoluta de que não haveria chances de o Palácio do Planalto ser derrotado. A emenda acabou sendo aprovada por 336 votos, 28 a mais do que o mínimo necessário, em fevereiro deste ano. Quando a chance de derrota foi vislumbrada, ele não hesitou em adotar métodos pouco ortodoxos. Em junho de 95, quando a oposição ameaçou se unir com a chamada bancada ruralista para aprovar o tabelamento dos juros em 12% ao ano, Luís Eduardo cogitou colocar em votação imediata a Lei dos Partidos, que ameaçava de extinção as pequenas legendas, a maioria de oposição. No final das contas, nem a Lei dos Partidos nem o tabelamento de juros foi aprovado. Em fevereiro de 96, oposição e governistas dissidentes já tinham maioria para derrubar a emenda da Previdência na comissão especial criada na Câmara. Luís Eduardo aproveitou a renúncia do presidente da comissão, deputado Jair Soares (PFL-RS), para, numa "canetada" só, dissolver a comissão e levar a emenda diretamente para o plenário. A estratégia, dessa vez, acabou não dando certo. A emenda foi aprovada, mas a oposição conseguiu impor uma série de mudanças ao texto, desfigurando a reforma pretendida pelo governo. Com a derrota, Luís Eduardo e governistas decidiram mudar o Regimento Interno da Câmara, limitando o número de modificações (destaques) que cada partido poderia apresentar a um projeto. Foi acusado pela oposição de mudar as regras no meio do jogo. Nestes quase dois anos e meio de governo, a amizade entre FHC e Luís Eduardo sofreu pequenos abalos. O mais grave aconteceu no final de 95, quando o deputado acusou o Banco Central de divulgar de propósito a chamada pasta rosa -que continha uma lista com nomes de políticos e as doações feitas pelo banco na campanha de 90. Luís Eduardo e seu pai, o atual presidente do Congresso, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), constavam da listagem. O deputado acusou o governo de "falta de autoridade" e, num jantar em sua casa em dezembro de 95, chegou a dedicar uma parte da música "Apesar de Você", de Chico Buarque, a FHC: "Você vai é pagar e é dobrado". Texto Anterior: Tarefa é cuidar da aliança eleitoral para 98 Próximo Texto: Quem ganha e quem perde Índice |
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