São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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PF apura compra de votos R$ 20

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL), acusado de intermediar compra de votos para a reeleição por R$ 200 mil, tem em seu secretariado dois deputados que estão sendo investigados pela Polícia Federal sob suspeita de terem comprado votos de pessoas pobres por R$ 20, em 94.
O inquérito da PF está em fase de conclusão. A PF está convocando, via publicação de listas em jornais de Manaus, os 46.756 eleitores de duas zonas eleitorais.
O delegado responsável pelo caso, Cláudio da Rosa Silva, quer conferir se as assinaturas dos eleitores conferem com as dos boletos do Tribunal Regional Eleitoral.
Estão na mira das investigações os secretários de Comunicação Social, Ronaldo Tiradentes, e o da Educação, José Melo de Oliveira, eleitos em 94, respectivamente, deputado estadual e federal.
No inquérito, ao qual a Agência Folha teve acesso, a PF conclui que a fraude foi feita a partir da distribuição gratuita de cédulas de identidade para carentes. Maria Aparecida Abrantes, servidora da Procuradoria Geral do Estado, é acusada de coordenar o esquema.
Ela se apresentava como "Dorinha" e utilizava os documentos retidos para que pessoas do comitê dos então candidatos votassem em nome de outros eleitores.
Em depoimento à PF, Mauro Sandro Rodrigues dos Santos contou que foi recrutado por "Dorinha" em um bar no dia da eleição e que votou mais de dez vezes usando documentos que ela lhe dava.
Santos chegou a identificar uma de suas assinaturas nos boletos do TRT na PF, quando depôs.
Ele votou em nome de Manuel Mendes Coelho, segundo a PF, um tetraplégico que há dez anos mora no Piauí e não esteve em Manaus.
"Dorinha" negou no depoimento ter feito o trabalho de compra de votos. Disse, porém, que trabalha em campanhas eleitorais desde 86 e que coordenou comitês de Amazonino em duas eleições.
O caso foi denunciado à PF por Creusa Maria Lima Fonseca, que disse ter sido contratada na Prefeitura de Manaus por "Dorinha" para "participar de um esquema de fraude em benefício dos candidatos Melo e Tiradentes".
Ela disse que usou 18 cédulas de identidade, recebidas das mãos de "Dorinha". As cédulas, apreendidas pela PF, estão no inquérito. A PF localizou 2 das 18 pessoas cujas cédulas teriam sido usadas na fraude. Elas disseram que era a primeira vez que viam o documento.
Outro lado
A Agência Folha telefonou para Ronaldo Tiradentes às 11h45 (12h45 em Brasília). Ele pediu para que o jornalista fosse até a sede do governo, onde ele estava.
A reportagem ficou de 12h45 até as 15h15 à espera de Tiradentes e do governador. Um assessor de Tiradentes, pediu, então, as perguntas por escrito. Isso foi feito, mas mesmo assim não houve resposta.

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