São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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Juan Uslé justifica sua opção pela pintura

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O intercâmbio na galeria Camargo Vilaça continua. Vai Ernesto Neto, Rosângela Rennó, Valeska Soares. Vem Francesc Torres, Charles Long e até Kiki Smith, que foi liberada por galeria-mãe inglesa Anthony D'Offay e desembarca na galeria paulistana no início do ano que vem.
"Existe carência de contato com a produção contemporânea internacional, e minha balança é superavitária: eu exporto muito mais artistas que importo", diz o galerista Marcantonio Vilaça, para justificar o espaço que dá à produção estrangeira e os olhos grandes que coloca no mercado exterior.
Os dois mais novos exemplos do escambo nas artes são o casal espanhol Juan Uslé e Victoria Civera.
Uslé esteve na Bienal de São Paulo em 1985 e participou da Documenta 9, em 1992. Volta agora com nove pinturas recentes, produzidas entre 1995 e 1997. Procurou trazer uma seleção heterogênea para dar uma idéia maior sobre sua produção. "Cada um é um mundo e um problema", disse.
Seus trabalhos, embora totalmente abstratos, podem indicar figurações. "São abstratos, mas sugerem problemas da representação", disse Uslé, lembrando ainda que há muito tempo a representação já encontrou linguagens que a expresse melhor.
Algumas pistas são dadas já nos títulos da obra. "Não quero dar títulos como 'Abstração nº 115'. Seria formalismo demais", disse.
Em "Ecos de Nemo", por exemplo, pinceladas curtas sobre faixas monocromáticas que se alternam sugerem um cardume sob vários níveis de um mar-pintura. "São vozes anônimas que têm um gosto de passado, como a vida do navegador Nemo, que era afastado do mundo", resume o artista.
Em outros trabalhos, pinceladas ininterruptas podem se abrir e sugerir elementos ocultos, que brotam por trás da linha. Juntas com linhas mais orgânicas, na linha expressionismo abstrato, podem ainda indicar um embate de estilos, como em "Lid".
"Há algo da imediatice da imagem, que é um conceito americano, mas também uma tentativa de permanência da pintura, que é europeu", justifica Uslé, referindo-se ao fato de ter formação espanhola, mas viver em Nova York.
O andar superior da galeria está ocupado com duas pinturas e uma grande instalação de Victoria Civera. Uma rápida olhada por um catálogo de uma exposição recente evidencia que sua produção é mais rica e eclética, principalmente seus objetos e instalações menores.
Apresentando-os, Victoria escaparia de comparações improdutivas e apresentaria uma mostra mais consistente de seu universo íntimo, bem mais rico e intrigante que o apresentado aqui.

Mostra: Juan Uslé (nove pinturas) e Victoria Civera (duas pinturas e uma instalação)
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 011/210-7390, Vila Madalena)
Vernissage: hoje, às 20h
Quando: até 27 de junho

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