São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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Programa socialista pode ser inviável

JOHN LICHFIELD
DO "THE INDEPENDENT", EM PARIS

Empossado ontem no cargo de premiê, Lionel Jospin sabe que alguns pontos do programa socialista provavelmente não irão sobreviver ao contato com a realidade.
Os líderes socialistas começaram a jogar água fria nas expectativas públicas mesmo antes do segundo turno das eleições, dizendo que tudo dependeria de sua margem de manobra orçamentária e que talvez a redução obrigatória da carga horária semanal de trabalho para 35 horas implicará uma pequena perda salarial.
Ao mesmo tempo Jospin prometeu, sobretudo, criar uma cultura governista diferente, na qual os políticos "digam a verdade e façam o que disseram que vão fazer". Tão bem quanto qualquer outro, Jospin sabe que outro fracasso da esquerda -ou de qualquer governo, depois de cinco mudanças de rumo político nos últimos 20 anos- correria o risco de causar grave prejuízo à democracia francesa.
Na extrema direita, Jean-Marie le Pen aguarda, confiante, que se produza outro desastre político. É possível que alguns setores dissidentes do RPR, gaullista, e da aliança UDF possam estar dispostos a selar acordos com a Frente Nacional.
Jospin é um homem honesto, competente e simpático. Ontem mesmo, depois de ser formalmente convidado a assumir o cargo de premiê pelo enfraquecido presidente Jacques Chirac, já começou a trabalhar.
Jospin prometeu anunciar a composição de seu governo até o final da semana. Mas,mesmo antes de receber os pedidos que inevitavelmente virão dos comunistas e outros aliados socialistas na esquerda majoritária, Jospin deve saber que não será fácil cumprir as promessas feitas por seu próprio partido: preservar a moeda única, mas abrandar as diretrizes de Maastricht; gerar 700 mil empregos subsidiados, mas sem elevar os impostos totais; reduzir o imposto sobre alguns produtos e os encargos sociais das empresas, mas abrandar as reformas previdenciárias e manter as estatais.
Jospin herda um alto índice de desemprego (12,8%), crescimento vacilante e um programa de privatizações incompleto. Será que vai abandoná-lo completamente, ou concluir partes dele? Durante a campanha, Jospin declarou que o mais importante é fortalecer a demanda interna na França.
Prometeu promover, no primeiro mês de seu governo, uma conferência entre governo, empresários e sindicatos, com o intuito de elevar os salários. Disse que as políticas de combate à inflação promovidas pelo governo de Alain Juppé acabaram por contrariar seus próprios objetivos -reduzindo o crescimento, reduzindo a receita fiscal do governo, aumentando os gastos do governo e forçando este a promover novos cortes.
Sua crítica não deixa de ter razão, sob alguns aspectos. Interromper os esforços feitos para reduzir a inflação, visando a fazer o pé francês caber na sapatilha de vidro de Maastricht, pode ajudar um pouco. Mas o que acontecerá se a união monetária européia implodir ou for adiada, forçando à elevação das taxas de juros e reduzindo os investimentos estrangeiros na França, que estavam começando a subir?

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