São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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PREÇO DO ÔNIBUS

Não estão claros os critérios utilizados para aumentar o preço da passagem de ônibus na cidade de São Paulo de R$ 0,80 para R$ 0,90. Os 12,5% de majoração superam a inflação, de apenas 7% nos últimos 12 meses, e também o reajuste salarial de cobradores e motoristas, de 8% no dissídio recém-concluído.
O valor da passagem é fixado pela prefeitura, sob a pressão das empresas de transporte. Já estava mal explicado o processo pelo qual a tarifa chegou a R$ 0,80. Em junho de 96, a majoração de R$ 0,65 para R$ 0,80 ocorreu logo depois de uma greve de motoristas marcada pela suspeita de acordo entre empresas e sindicatos para se beneficiarem do aumento da tarifa. A paralisação atingiu 98%, uma taxa de sucesso rara, e resultou em aumento de 16% nos salários e de 23,1% nas passagens.
Às vésperas da implantação do Plano Real, a tarifa de ônibus custava na cidade de São Paulo o equivalente a R$ 0,45. A simples manutenção dos R$ 0,80 corresponde a uma alta de 78%. A partir de sábado, a passagem estará 100% mais cara que no início do Real. A inflação nesse período foi de 65%. Nessas condições, não parece ser mero acaso que um crescente número de perueiros e ônibus clandestinos tenha sido atraído para o setor. Ao que tudo indica, em São Paulo tem se tornado muito interessante o negócio de transporte coletivo, enquanto a qualidade do serviço continua lastimável.
A prefeitura defendeu o novo aumento argumentando que o número de passageiros caiu nos últimos 12 meses. Mas não foi apresentado estudo que comparasse tal queda com a redução da frota em circulação.
Ao sancionar novo aumento de tarifa, o prefeito Celso Pitta onera ainda mais um item já pesado do orçamento dos trabalhadores mais pobres. A alta tem também um impacto inflacionário. A escalada no preço das passagens é portanto assunto de relevância econômica e social, que não pode ser decidido obscuramente. A prefeitura deve esclarecimentos.

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