São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997
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O Franco e o nem tanto

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Quando eu for presidente da República, meu coordenador político será Gustavo Franco, hoje diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.
Seremos um fracasso instantâneo e estrepitoso, mas, pelo menos, um fracasso absolutamente transparente.
Pode-se amar ou odiar Gustavo Franco, concordar ou discordar dele com toda a veemência, mas não seria honesto negar-lhe uma qualidade rara no mundo político: dá a cara para bater. Além de preservar o bom humor, não raro corrosivo, quando boa parte de seus colegas de governo trocou o humor pelo rancor.
Gustavo Franco é, de certo modo, o antípoda de Luís Eduardo Magalhães, presumível novo coordenador político do governo Fernando Henrique Cardoso.
De Luís Eduardo, sabe-se que é um mestre no jogo político miúdo, nas manobras de bastidores. Falta-lhe, assim mesmo, o teste de fogo que é jogar no campo do adversário.
Luís Eduardo, desde criancinha, jogou no time do governo, fosse qual fosse o governo, o que nem sempre é cômodo, mas é sempre mais fácil do que tentar articular o que quer que seja sob o sereno que cai inexoravelmente sobre a oposição.
Ao contrário de Gustavo Franco, ninguém sabe o que Luís Eduardo pensa sobre qualquer tema mais relevante do que a contagem de cabeças a favor ou contra projetos do governo.
Ou porque não tem mesmo o que dizer ou porque é muitíssimo mais mineiro do que baiano.
Em todo o caso, a divisão de tarefas, se confirmada a indicação de Luís Eduardo para coordenador político, faz sentido. Gustavo Franco não esconde de ninguém que defende a estabilização da moeda até a morte, o que significa defender o grande ativo eleitoral do governo FHC.
Com isso, Luís Eduardo pode se dedicar ao esporte de continuar sendo o mais falado e o menos falante dos políticos brasileiros. Não faz diferença.

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