São Paulo, quarta-feira, 4 de junho de 1997 |
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Dignidade a metro
RUI NOGUEIRA Brasília - A razão do oportunismo está levando a melhor. Virou rotina um dos três Poderes tomar uma decisão e mandar o Poder vizinho se virar -é como lavar as mãos na água da demagogia.O Executivo revira leis e princípios em nome da governabilidade e queixa-se quando o Judiciário dá um breque nos desmandos que atropelam direitos. O Legislativo e o Judiciário padecem de um mal comum: em nome da independência, gastam como se os recursos deles fossem chocados por uma galinha de ovos de ouro. Em meio a tantas carências, é comum ver esses dois Poderes às voltas com reformas e projetos de prédios suntuosos. Brasília abriga dois exemplos redondos dessa mentalidade. Os funcionários públicos do Distrito Federal estão há quase dois anos sem aumento de salário, e a folha de pagamento já consome mais de 80% dos recursos. Apesar disso, a Assembléia Legislativa do DF vive em outro país. Concedeu-se um aumento de 18%, mais de meio milhão de reais numa folha que já custa R$ 3,2 milhões. Na assembléia pratica-se o esporte do eufemismo. Chama-se o aumento de "realinhamento de salários" e se informa que, com um remanejamento no orçamento, é possível dar o aumento sem pedir dinheiro novo ao governo. Esquecem-se de que só ovo galado dá pintinho. Anteontem, o juiz George Lopes Leite, titular da Vara de Execuções Criminais, também tentou botar o ovo em pé, movido, provavelmente, pelo sopro de um espírito bem-intencionado. Decidiu que o governo do DF tem de providenciar imediatamente um espaço de pelo menos 1,26 m2 para cada preso -o mínimo para estender um colchonete na cela. Se a determinação não for cumprida, dentro de 60 dias o juiz pode começar a libertar os presos menos perigosos. A decisão é humana, mas tem a marca de quem julga ser governo apenas o Executivo. Será que o Judiciário já fez tudo ao seu alcance para reduzir a superpopulação nas prisões? Assim fica fácil estabelecer a dignidade de um preso em metros. Texto Anterior: O Franco e o nem tanto Próximo Texto: A grande diferença Índice |
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