São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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'Não sou milagreiro', diz novo coordenador

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) assume hoje o comando político do governo sem prometer a aprovação das reformas propostas pelo presidente FHC: "Não sou milagreiro", disse.
Pouco antes de ir ao gabinete de FHC dizer formalmente que aceitara o convite para a liderança do governo na Câmara, o deputado avaliou que não será fácil garantir os votos de 308 dos 513 deputados para aprovar a reforma administrativa e a prorrogação do FEF (Fundo de Estabilização Fiscal).
Embora os partidos aliados ao Palácio do Planalto detenham mais de 400 votos na Câmara, os deputados fiéis não chegam a 308, o mínimo exigido para a aprovação das reformas constitucionais. "Se os aliados fossem 308, eu estaria sorrindo", disse o deputado.
Numa conversa por telefone com o ex-líder Benito Gama (PFL-BA), Luís Eduardo disse por que aceitaria o convite, feito há 15 dias: "Simplesmente eu não podia dizer não ao presidente".
Na conversa com Benito, Luís Eduardo antecipou como será seu estilo na tarefa de administrar os votos da base. "Comigo, você sabe, é lua-de-mel permanente".
"Deixa comigo", disse, prometendo indicar o ex-líder para a presidência da Comissão de Relações Exteriores. O telefonema foi presenciado por um grupo de prefeitos baianos que promoveram uma homenagem ao mais novo "homem forte" do governo FHC. A homenagem ocupou a maior parte da tarde do deputado.
O ritual de posse do novo líder foi previamente calculado para evitar resistências dos demais partidos aliados a sua atuação.
Luís Eduardo não esperou, como queria, por uma conversa pessoal com o ministro Sérgio Motta (Comunicações) para deixar bem claros os papéis de cada um no comando político. A demora do ministro no exterior atrasaria ainda mais a resposta a FHC.
Para evitar um confronto com o PMDB, o deputado combinou com o ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) que os dois iriam juntos ao Planalto no início da noite formalizar a resposta.
Esvaziado com a indicação de Luís Eduardo, o ministro observou que a tarefa do novo líder será "artesanal": "O governo não tem maioria. A maioria aqui é episódica", calculou.
Santos avaliou que, após a votação do projeto que permite a FHC disputar a reeleição, em fevereiro, a base política governista se desorganizou. "O equilíbrio que agora se busca é instável", disse, raciocinando sobre as chances de sucesso do novo líder: "Vamos votar os projetos e aprovar se puder".
O objetivo mais imediato do governo com a indicação de Luís Eduardo é tentar mudar o clima desfavorável às reformas.
Aliados governistas entenderam que o novo líder assume com respaldo de FHC para negociar os votos de 60 a 70 deputados que costumam pensar duas vezes antes de votar com o governo.

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