São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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Luís Eduardo resolve um falso problema

JOSIAS DE SOUZA
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

Quem acompanha o debate político das últimas duas semanas tem a sensação de que o governo está às voltas com uma enorme dificuldade: a falta de um articulador político.
O problema é tão falso quanto a impressão de que o deputado Luís Eduardo Magalhães fará, sozinho, deslanchar a votação das reformas constitucionais no Congresso.
FHC quer isolar o ministro Sérgio Motta. E só. O debate que flui nos subterrâneos de Brasília não toca na verdadeira crise: a falência do sistema representativo.
No Congresso brasileiro, ninguém representa ninguém. Cada parlamentar é articulador de si mesmo. E não há Luís Eduardo capaz de mudar o fato de que a base governista é movida a favores, empregos e verbas. É uma tribo de Ronivons.
Não há propriamente falta, mas inflação de articuladores. Fernando Henrique é, ele próprio, um articulador. Há ainda o vice Marco Maciel, Serjão e Luiz Carlos "Nó em Fumaça" Santos.
Ontem, antes de se encontrar com o presidente da República, Luís Eduardo discou para Serjão, refugiado na França. E depois da conversa com FHC, falou com Luiz Carlos Santos. Tentou demarcar seu território.
Nos diálogos com Sérgio Motta e FHC, Luís Eduardo arrancou o compromisso de que o ministro das Comunicações irá parar de dar palpites na área política. Doravante, falará apenas de telefones, cartas e satélites. Quem conhece Serjão sabe que o pacto é sólido como gelatina.
O caso do ministro Luiz Carlos Santos é ainda mais curioso. Como líder do governo na Câmara, Luís Eduardo deveria, em tese, auxiliar Santos. Na prática, porém, o ministro virou um zumbi. No latifúndio em que se transformou a coordenação política, Santos é um "sem-poder", um superior com menos prestígio do que o auxiliar.
Antes do escândalo da compra de votos, Fernando Henrique suava para articular a base governista no Congresso. Agora, terá de articular também o seu time de articuladores.
O eventual sucesso no Congresso será creditado a Luís Eduardo. O fracasso será debitado na conta do Palácio do Planalto. A Luís Eduardo sempre restará a alternativa de pedir o boné. Não faltarão pretextos.

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