São Paulo, quinta-feira, 5 de junho de 1997
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Choque invade Detenção e encerra motim

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A ameaça de um confronto com a tropa de choque da PM provocou a rendição dos presos, pondo fim à rebelião de ontem na Casa de Detenção, no Carandiru (zona norte de São Paulo). Foi a primeira vez, desde o massacre de 111 presos no pavilhão 9, em 92, que a PM interveio em uma revolta na Detenção.
A tropa de choque levou 35 minutos para acabar com o motim dos 15 presos no pavilhão 6. Os sete reféns foram libertados -um deles ficou ferido em uma das mãos. Ao todo, a revolta durou 27 horas.
Além do refém, um sargento do Corpo de Bombeiros ficou ferido no abdômen após um acidente com um equipamento hidráulico. Os rebelados vão ser transferidos pela PM para o CRP (Centro de Readaptação Penitenciária).
Conhecido como Piranhão, o CRP é um anexo da Casa de Custódia de Taubaté (SP). Os amotinados permanecerão seis meses nessa prisão de segurança máxima por ordem do secretário da Administração Penitenciária, João Benedito de Azevedo Marques.
"Ninguém pode confundir o respeito aos direitos humanos com a falta do exercício da autoridade", disse o secretário ao justificar a iniciativa de convocar a tropa de choque para pôr fim à rebelião.
Os detentos haviam tentado escapar anteontem às 9h30. Cerca de 400 deles tentaram dominar as várias portarias entre os pavilhões 8 e 9 executando uma manobra chamada "cavalo doido" -corrida em direção à rua semelhante ao estouro de uma manada.
Como a fuga fracassou, os 15 presos pegaram sete agentes penitenciários como reféns e se trancaram na despensa do pavilhão 6. Exigiam ser transferidos para a Penitenciária de Bauru (SP) e queriam levar reféns na viagem.
As negociações foram interrompidas durante a noite. Retomadas ontem de manhã, os presos e o secretário chegaram a um acordo por volta das 11h: haveria transferência após a imediata libertação dos reféns e a entrega das armas.
Minutos depois, os rebelados voltaram atrás. Então, a tropa de choque foi chamada. Ao todo, 120 homens foram ao Carandiru.
Um esquadrão da cavalaria cercou a Detenção. PMs com cães, escudos, capacetes, cassetetes e metralhadoras entraram na prisão. Eles foram acompanhados por bombeiros e por paramédicos.
Os presos foram avisados que a tropa de choque interviria. Em reposta, colocaram facas nos pescoços dos reféns e ameaçaram matá-los. Os bombeiros usaram um aparelhos hidráulicos para arrombar o portão de ferro da despensa.
Ao perceberem que a ameaça era séria, os presos se despiram -sinal de rendição- e soltaram os reféns e os 23 estiletes e facas. Quando a tropa de choque entrou, não houve resistência.

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