São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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Verissimo, enfim, no cinemão

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ed Mort", que estréia hoje em São Paulo, é o primeiro longa-metragem baseado na obra de Luis Fernando Veríssimo. Mas também só faltava isso. Textos -ou personagens- do escritor gaúcho já viraram programas de televisão, histórias em quadrinhos, peças de teatro e curtas-metragens.
"Comigo acontece essa coisa engraçada, as pessoas vivem me descobrindo. E eu estou fazendo isso há mais de 30 anos", disse Veríssimo à Folha, em São Paulo, onde esteve para promover o filme.
Como em praticamente tudo o que envolve o escritor, o humor e a sátira são características básicas de "Ed Mort". A contribuição de Veríssimo, no entanto, é menor do que se imagina a princípio.
Apesar de ser o criador do personagem e de um conto seu -"Ed Mort Procurando o Silva"- funcionar como a base para o filme, ele não teve praticamente nenhuma participação direta no roteiro de José Rubens Chachá.
Nem sequer fez sugestões nas vezes em que o diretor Alain Fresnot lhe enviou as várias versões do texto. A decisão é justificada por uma alegada falta de tempo seguida pela convicção pessoal.
"Era uma criação deles. Sempre encaro adaptações de coisas minhas como o trabalho de outra pessoa. Aliás, ninguém deve comparar o que está sendo feito com o original, porque é outro trabalho, é obra de outra pessoa."
Mas o escritor parece ratificar o resultado final que encontrou nas telas, ou, ao menos, faz a propaganda. "É um filme engraçado, atraente, a trama é boa, funciona muito bem."
Paródia
Fã de literatura policial norte-americana da década de 50 e dos filmes noir, Veríssimo criou Ed Mort como uma sátira.
"Ed Mort é o típico detetive particular da literatura, enfim um gênero já muito marcado, muito conhecido. Ele nasceu para ser a versão brasileira desse herói. Quer dizer, um herói subdesenvolvido, para quem nada dá certo, que não consegue resolver seus casos. Ele já nasceu como uma espécie de personagem de cinema, já estava predestinado a ser alguma coisa do gênero", disse.
No original, o detetive vive no submundo do Rio de Janeiro, numa galeria de Copacabana, e sua ocupação não passa de um subemprego. O filme de Fresnot o transporta para São Paulo. "São Paulo é uma cidade mais cosmopolita, uma estrutura urbana do Brasil. Por isso, acho que até ficou melhor em São Paulo", afirmou.
Comédia
Durante a carreira, Veríssimo se notabilizou pelas centenas de crônicas que escreveu. As mais famosas estão concentradas nos volumes de "A Comédia da Vida Privada". Outras são publicadas em vários jornais do país semanalmente, entre eles o "Jornal do Brasil" e "O Estado de S. Paulo".
Além disso, o autor faz o texto de alguns programas de televisão, caso do quadro "A Vida ao Vivo", com Luís Fernando Guimarães e Pedro Cardoso.
Mas é na adaptação de "A Comédia da Vida Privada" para a televisão que Veríssimo vê o melhor resultado de um trabalho seu.
"O que eles fizeram é uma coisa inédita. Pegaram várias crônicas de um autor, no caso eu, e deram uma continuidade, costurando as crônicas e fazendo uma coisa com sequência", afirmou.
"Funcionou muito bem, porque envolveu pessoas de muito talento, o Guel Arraes, o Jorge Furtado, o elenco da Globo, disse.
Foi uma coisa que eu gostei bastante. Eu há muito tempo escrevia para televisão e, ironicamente, a primeira coisa minha que funcionou bem não foi escrita diretamente por mim, foi uma adaptação", falou.

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