São Paulo, sexta-feira, 6 de junho de 1997
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Comédia atrai simpatia com estética de HQ

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

"Ed Mort" é um projeto bem armado. Toma por base um personagem preexistente (criado por Luis Fernando Veríssimo) e simpático, a produção é adequada e os atores, competentes.
A isso, somam-se alguns fatores capazes de favorecer a comunicação fácil do filme com o público.
Primeiro, a referência contínua ao filme de detetive -gênero tão americano- e seu deslocamento para o Brasil, como paródia, favorecem o surgimento da comédia.
Em seguida, a estética de história em quadrinhos também conta a favor, prometendo leveza e descompromisso ao espectador.
Em suma, "Ed Mort" se apresenta como um dos filmes capazes de tirar o cinema brasileiro do gueto a que está confinado (o Espaço Unibanco, em São Paulo, e o Estação Botafogo, no Rio), apesar do vigor e da variedade que vem mostrando a produção nacional.
Se não chega a satisfazer, é porque existe um descompasso entre o projeto e sua realização.
Isto é, dentro do parâmetro que procurou -o do cinema comercial- Alain Fresnot concebeu e planejou seu produto de maneira competente. Se tivesse entregue a realização a um diretor com mais "feeling" para a comédia, as coisas andariam melhor.
Fresnot optou por filmar seus atores, a maior parte do tempo, em planos próximos e isolados uns dos outros, o que tem dois inconvenientes: imobiliza-os em enquadramentos fechados e impede-os de criar um contato mais fluente com os demais atores e com os cenários da ação.
Com isso, cria uma tendência a perder o tempo das gags verbais, o que prejudica em particular Paulo Betti -que faz Ed Mort-, um ator que tem na mobilidade um de seus pontos fortes.
É justamente nos momentos em que Fresnot opta pela filmagem em planos mais distanciados que o filme funciona melhor. Em particular, quando Cláudia Abreu está em cena, fazendo uma apresentadora de TV (tipo Xuxa).
O roteiro de José Rubens Chachá também é problemático. Começa bem, caracterizando Ed Mort como um típico "private eye" à brasileira: tão miserável e "outsider" quanto os seus pares norte-americanos, mas subdesenvolvido.
Se engrena um número mais que aceitável de gags verbais, o roteiro prende-se muito fielmente à idéia de paródia, isto é: sobrepõe ao esforço humorístico uma trama complexa, cheia de fundos falsos (em que o mote é a procura do Silva, um personagem hábil nos disfarces), mas que desemboca num vazio abissal (os vilões propostos são dignos de filme do pessoal da TV Colosso, que pelo menos era explicitamente infantil).
Por fim, "Ed Mort" sofre com o número módico de gags visuais e, ainda, pelo fato de as poucas existentes se perderem com frequência. Exemplo: aquela em que Ed Mort é levado num avião por um grupo de vilões homicidas sofre de falta de preparação e se torna quase incompreensível.
A vantagem de "Ed Mort" é que as deficiências não parecem prejudicar a simpatia do público pelo personagem. Se isso se confirmar na bilheteria, entre perdas e ganhos, "Ed Mort" estará no lucro.

Filme: Ed Mort
Produção: Brasil, 1997
Direção: Alain Fresnot
Com: Paulo Betti, Cláudia Abreu
Quando: a partir de hoje, nos cines Plaza Sul 2 e Cinearte 1

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